Seja por conta da escassez da produção estadual, ou pelos custos de importação, baianas de acarajé relatam que sentem o aumento do preço do azeite de dendê. É o caso de Adriana Brito, que evita repassar o novo custo para os clientes e só aumenta o valor do seu acarajé no começo do ano. Hoje são R$15 sem camarão e R$17 com. Uma das estratégias de Adriana para diminuir o prejuízo é reutilizar o azeite de outras formas.
“Pra mim é mais fácil porque reaproveito o azeite, faço sabão com ele para o meu trabalho. Amo usar esse sabão para lavar prato e lavar roupa. Ainda não vendo, compartilho com minhas amigas, mas tenho pensado em vender, porque tem muita gente que gosta”, explica Adriana.
Já Maria das Graças, mais conhecida como a baiana Neinha, comenta que compra o azeite na Feira de São Joaquim, mas só vai nas marcas que já conhece, porque sente uma diferença grande nas outras. “Tem uns que vem com um pózinho, que você bota o azeite no fogo, começa a esquentar e vira óleo, não fica aquele dendê. Muda a textura e depois muda o sabor do acarajé e do vatapá”, ressalta.
O Pará é responsável por 2.835.049 toneladas de produção de coco de dendê – matéria prima do azeite de dendê -, segundo dados de 2023 do IBGE. O estado respondeu por 97,8% da produção do artigo, enquanto a Bahia apenas 1,3% do total. Roraima é o único outro estado que produz o bem e é responsável por 0,9% do que é produzido no Brasil.
“Nosso dendê é diferenciado. É um dendê próprio para fazer moqueca, próprio para fazer acarajé. E hoje, para a gente sustentar essa demanda, a gente já está tendo que importar de outros estados, como o Pará”, afirma a coordenadora da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM), Rita Santos.
O professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Alcides Caldas, explica essa queda na quantidade de municípios baianos que produziam o dendê. “A falta de investimento na cadeia produtiva, de modernização das estruturas, de incentivos, de estudos para melhorar os sistemas produtivos das variedades existentes são algumas das razões para essa diminuição”.

Diante desse cenário a Câmara Setorial do Dendê, que conta com produtores de dendê, baianas de acarajé, membros do candomblé e representantes de universidades, teve sua primeira reunião na última quarta, com o intuito de tratar sobre a preservação e incentivo a proliferação do dendê no estado. Na prática, a Câmara só vai começar a atuar após as eleições. Alcides adianta que uma das soluções para mudar o panorama da produção baiana é uma maior presença do Governo do Estado.
“Precisa o apoio incondicional do Governo do Estado. É preciso entender que a produção do azeite de dendê da Bahia não é uma produção de commodities, simplesmente. É um bem cultural. É preciso uma política que alavanque as estruturas para um patamar mais moderno de produção”, afirma.
Ele ainda aponta alguns dos avanços necessários: “Plantar mudas de dendê. Grande prioridade. Temos outras prioridades também, que é a melhoria das condições de produção, máquinas modernas, toda a produção é muito artesanal, é preciso pensar efetivamente sobre essas formas de produção do azeite de dendê. A Câmara tem esse objetivo”, comenta Alcides.
O diretor da Cooperativa de Produtores Rurais e Agricultores Familiares de Valença e território Baixo Sul da Bahia, Eraldo Correia, reforça posição. “É preciso que haja incentivo pra novos plantios com acompanhamento técnico específico pro dendê. Isso tudo é importante pra que a gente possa voltar a ampliar o nosso percentual de plantas e de produção aqui na Bahia, principalmente no Baixo Sul que é uma das maiores regiões produtora de dendê”, afirma.
Fonte: A Tarde
Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE