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Burnout afeta 32% dos trabalhadores no Brasil e será alvo de fiscalização a partir de 2026

Síndrome do esgotamento profissional, reconhecida como doença ocupacional pela OMS, cresce entre brasileiros e exige mudanças no ambiente de trabalho

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Sentir-se fisicamente e emocionalmente esgotado a ponto de não conseguir sair da cama, tomar banho ou vestir-se. Apresentar alterações no sono, no apetite e perder totalmente o interesse pelas tarefas profissionais. Esses são alguns dos principais sintomas da síndrome de burnout, um distúrbio de saúde mental associado ao estresse crônico não administrado no ambiente de trabalho.

De acordo com a International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), 32% dos trabalhadores brasileiros apresentam sinais da síndrome. O tema ganhou destaque recentemente com a exibição da novela Vale Tudo, onde o personagem Renato Filipelli, interpretado por João Vicente de Castro, enfrenta um quadro semelhante, informa G1.

Foto: TV Globo/Reprodução

Em entrevista ao podcast Bem-Estar, a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-BR, alertou para a gravidade do problema. “A pessoa tem uma sensação de exaustão tão profunda que tarefas cotidianas, como sair da cama, tomar banho ou se vestir, exigem um esforço sobrenatural”, afirmou.

Diferença entre burnout e depressão

Embora o burnout tenha sido classificado em 2022 como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ele é tecnicamente uma síndrome. Segundo Rossi, uma síndrome é caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas que ocorrem simultaneamente, mas sem uma causa médica única definida, diferentemente de uma doença tradicional.

Outra distinção importante é em relação à depressão. Enquanto a depressão pode afetar qualquer pessoa, independentemente de estar empregada, o burnout só atinge indivíduos que estão ativos no mercado de trabalho. “É um resultado direto do estresse crônico no ambiente profissional”, explicou.

Sinais de alerta

O diagnóstico de burnout envolve três dimensões principais:

  • Exaustão: cansaço extremo, tanto físico quanto emocional, que persiste mesmo após períodos de descanso ou férias;

  • Ceticismo: apatia, indiferença e distanciamento emocional em relação às atividades profissionais;

  • Ineficácia: redução da produtividade, aumento nos erros e sentimento de incompetência.

Causas e consequências

A síndrome geralmente acomete profissionais que se sentem sobrecarregados, desvalorizados ou sem apoio no trabalho. Entre os principais fatores de risco estão:

  • Carga horária excessiva;

  • Insegurança no emprego;

  • Falta de reconhecimento;

  • Metas inatingíveis;

  • Conflito entre vida profissional e pessoal.

Os efeitos podem ser devastadores. Além de desencadear transtornos como ansiedade e depressão, o burnout está associado ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, insônia, dores crônicas e até maior taxa de mortalidade.

Home office pode ser fator agravante

O trabalho remoto, adotado por muitos durante e após a pandemia, teve impactos variados. Para algumas pessoas, representou ganho em qualidade de vida e produtividade. Para outras, principalmente aquelas que valorizam a interação social, trouxe isolamento e dificuldades de adaptação.

Rossi também critica a popularização inadequada do termo burnout. “Há uma grande confusão. Burnout é exclusivamente ligado ao ambiente de trabalho. Não existe burnout gestacional, burnout do estudante ou do idoso. Não há base científica para esses termos”, esclareceu.

Como tratar e prevenir o burnout

O tratamento envolve psicoterapia, em alguns casos uso de medicamentos antidepressivos, e mudanças no estilo de vida. No entanto, o afastamento do trabalho nem sempre é a solução ideal, alerta a psicóloga. “Muitas pessoas não têm rede de apoio e, ao se afastarem, sentem-se inúteis, o que pode agravar o quadro.”

Entre as principais estratégias preventivas estão:

  • Prática de respiração abdominal;

  • Manutenção de momentos de lazer;

  • Alimentação equilibrada;

  • Redução do consumo de álcool e cigarro;

  • Apoio emocional e social;

  • Estabelecimento de limites claros entre vida pessoal e profissional.

Empresas terão responsabilidade legal a partir de 2026

Com o reconhecimento do burnout como doença ocupacional, o Brasil passou a adotar normas regulatórias específicas. A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) exige que empresas implementem políticas de prevenção, como a limitação de jornadas excessivas, combate ao assédio moral e criação de um ambiente de trabalho mais saudável.

A fiscalização, inicialmente prevista para maio de 2025, foi adiada para maio de 2026. Ainda assim, segundo Ana Maria Rossi, o alerta já foi aceso entre os gestores. “Eles poderão ser responsabilizados judicialmente. É necessário garantir ambientes sustentáveis, reconhecimento e apoio aos colaboradores.”