A arte urbana tem ganhado destaque em Salvador, e um dos artistas que tem contribuído diretamente para essa transformação é Tarcio Vasconcelos, conhecido como TarcioV. Ilustrador, muralista e artista visual, ele vem utilizando muros e fachadas como telas para retratar a cultura local, o cotidiano baiano e a força simbólica do mar, informa Alô Alô Bahia.
“Meu trabalho fala muito do que eu vejo, do que eu vivo, do que eu gosto e do que eu imaginaria que seria bacana de se pintar e retratar. Então, as pessoas, a rua, a cultura popular, os povos de santo, as cores e sobretudo o mar e a faixa litorânea, a costa e suas histórias me interessam bastante.”
Inicialmente envolvido com o movimento hip-hop, Tarcio encontrou no Candomblé uma fonte profunda de inspiração estética e simbólica, que transformaria sua produção artística. Suas obras podem ser vistas em murais, quadros, camisetas e nas paredes de estabelecimentos culturais e gastronômicos da cidade, como a Casa da Mãe e o Restaurante Amalá, no Pelourinho.
Estilo e influências
Tarcio cita o artista Carybé como uma de suas principais influências por ter levado a imagem da Bahia para o mundo. Ele também destaca sua afinidade com o modernismo brasileiro, especialmente o pop, e o pós-modernismo baiano, que valoriza a cultura popular contemporânea.
Em 2022, participou da Mostra Casas Conceito, onde pintou uma das paredes da Escola Divino Mestre, na Travessa dos Perdões, no bairro Santo Antônio Além do Carmo.
“A Bahia de hoje ainda tem pescadores, capoeiristas, quituteiras e o povo de santo, e é essa Bahia real que tento retratar”, afirma.
Obras marcantes
Entre seus murais mais emblemáticos estão o “Pescador da Cidade Velha”, no Edifício Kiepe, no bairro do Comércio, e a pintura recente na Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho. A obra do pescador, com 32 metros de altura, tem um valor simbólico especial para Tarcio.
“Pra mim, o painel do Comércio tem um significado especial. Porque ele está de frente para o mar, um porto de chegadas e partidas de quem vem da ilha. Além disso, ele também é uma homenagem ao meu pai, que é o orixá Logunedé.”
Como foi uma obra financiada pela prefeitura, o artista optou por representar a religiosidade de forma alegórica:
“Procurei trazer a religiosidade de forma sutil, destacando o trabalhador que colhe e oferece os frutos do mar.”
A arte como espelho da cidade
Para Tarcio, a arte urbana é uma expressão democrática e acessível, voltada para a contemplação do cotidiano. Seu trabalho não busca transmitir mensagens explícitas, mas sim registrar a vida das pessoas comuns, os chamados “heróis silenciosos”, como quituteiras, capoeiristas e pescadores.
“Não penso muito em deixar mensagem. É uma arte contemplativa, marcada pelo modernismo, que retrata a vida e o tempo da cidade, como um pêndulo de relógio.”