segunda-feira | 01.09 | 7:24 PM

Ideia de criança baiana reinventa legado familiar e ganha prêmios internacionais

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Durante a pandemia de Covid-19, as restrições sanitárias impactaram todos os negócios, inclusive a agricultura familiar. Mas o que o cacauicultor baiano Lucas Arléo não imaginava, era que o futuro dos negócios da família seria definido por sua filha de 7 anos, Julia.

Eles são, respectivamente, a 3ª e a 4ª gerações de uma família que construiu legado na produção de cacau em Uruçuca, na região de Ilhéus, sul do estado, a partir de 1966. Nas férias, Lucas saía de Salvador para se reunir com a família na fazenda tocada pelo avô, a quem ele fazia questão de acompanhar em todo o processo de produção do cacau e visitas a outras roças. Com a crise da vassoura de bruxa, que dizimou lavouras do Brasil e levou o país a cair de 3º maior produtor mundial a importador de cacau, o jovem Lucas se viu na missão de assumir e reerguer o legado da família.

Ele se formou, passou a se dedicar integralmente à Fazenda Santa Rita e conseguiu estabelecer a produção sustentável do cacau no sistema conservacionista Cabruca, em que o cacaueiro é plantado sob árvores nativas da Mata Atlântica. Anos depois, o produtor investiu mais ainda em capacitação para alçar voos mais altos.

Através de uma parceria firmada com o Sebrae em 2015, Lucas obteve consultoria para o treinamento de colaboradores, engenharia de alimentos para a melhora da amêndoa de cacau, marketing, dentre outras. “Sempre utilizamos as soluções do Sebrae, tanto para gestão quanto para programas de acesso ao mercado, capacitações e as iniciativas voltadas junto à cadeia do cacau e chocolate”, conta Lucas Arléo.

Com a gestão organizada, a Fazenda Santa Rita também passou a integrar, em 2017, os programas do recém-inaugurado Centro de Inovação do Cacau. Foi através dele que Arléo descobriu que o cacau que produzia era muito superior ao topo da categoria que ele almejava. Novas parcerias foram feitas, eles se especializaram na produção de cacau especial, começaram a fornecer matéria-prima para a marca que viraria a famosa Dengo, e conquistou a 5ª posição no I Concurso Nacional de Qualidade de Cacau Especial do Brasil.

Ju Arléo

 

 

Mas e Julia?

A pequena Julia Arléo tinha 7 anos quando fez uma provocação ao pai, ali nos idos de 2020. “Ela perguntou por que a gente não fazia o nosso próprio chocolate, já que outras pessoas compravam o nosso cacau pra isso. Então pediu um melanger (o moinho que processa a amêndoa do cacau) de aniversário de 8 anos”, conta Lucas.

A família então passou a brincar de fazer chocolate na cozinha de casa. Presenteavam amigos e familiares, mas virou negócio e deu tão certo que recebeu o nome de sua criadora: Ju Arléo.

Pouco menos de um ano depois disso, eles se inscreveram em uma premiação internacional de chocolate e levaram o bronze. Hoje, a marca tem fábrica própria e já contabiliza cinco sabores premiados na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Ideia de criança baiana reinventa legado familiar e ganha prêmios internacionais

 

 

Tudo passa por ela

Hoje, aos 13 anos, Julia participa das principais decisões da marca sem comprometer sua rotina de criança, que vai dos estudos à brincadeira do tempo livre. “Ela arrancou a gente de uma zona de conforto e o chocolate foi onde eu enxerguei a possibilidade de aproximar minha filha da fazenda, mas a gente sempre respeitou o momento dela de brincar, de curtir, de ser criança. Ela só fica duas horas por semana nas atividades da marca, que hoje conta com colaboradores próprios e monopoliza a produção de cacau da família”, comenta Lucas Arléo.

Segundo ele, “Julia tem opiniões muito interessantes sobre marketing”. Ela ajuda a escolher arte de embalagem, aprova a qualidade do chocolate e sugere novos sabores (o de 36% cacau ao leite com cupuaçu foi idealizado por ela e é duplamente premiado, sendo a primeira marca de chocolates do Sul da Bahia a conquistar um ouro internacional). Esses sabores, inclusive, sempre são pensados a fim de valorizarem os produtos da região, movimentando a economia local e gerando uma identidade muito baiana ao chocolate.

Ao ver os rumos que a marca tomou com uma produção própria de cerca de 150kg de chocolate por mês, mas com capacidade para quase dobrar esse número, Lucas reflete sobre os movimentos que fez para reinventar e manter o negócio iniciado pelo seu avô.

“A família foi essencial. Eu, sozinho, com certeza não daria conta de tocar um negócio dessa complexidade. As premiações incentivaram muito a nossa capacitação e até hoje a gente colhe resultados do nosso primeiro prêmio”, aponta Lucas, que dedica aos filhos, Julia e Pedro, o movimento de renovação de um legado familiar que tem sido conduzido por ele com orientação adequada e muita vontade de alcançar novos feitos.

“A Julia é a menina que nos permitiu tudo isso. Ela é chamadora, questionadora de tudo e sempre se destacou, sempre foi muito à frente da idade dela. É a nossa reinvenção. Pedro é a agitação que traz essa energia que move a gente e também tá bastante envolvido com o que fazemos”, finaliza Lucas Arléo.

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Momento promissor

A cacauicultura baiana vive um momento de recuperação e reinvenção, com um novo olhar voltado para qualidade, inovação e sustentabilidade que contam com produtores como Lucas Arléo nesse movimento que resgata o valor do produto e da região, gerando mais renda e oportunidades para quem vive da terra. O Sebrae Bahia é parte essencial dessa transformação. Atua como parceiro estratégico dos produtores, conectando-os a novos mercados, fomentando negócios e estimulando a inovação.

Essa nova fase é um convite para conhecer e valorizar o patrimônio cultural, econômico e gastronômico do estado na eAgro25, evento promovido pelo Sebrae, correalizado pelo Sistema Faeb/Senar, que acontece de 27 a 29 de novembro, em Salvador – BA. Uma oportunidade para experimentar, aprender e se conectar com a riqueza que existe no campo do estado da Bahia. Informações e inscrições já disponíveis pelo site eagrodigital.com.br.

 

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Fonte: Alô Alô Bahia

Foto: Paulo Sérgio Aguiar do Prado / Divulgação

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