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Fórum Popular de Educação abre caminho para novas soluções

1º Fórum Popular de Educação reuniu estudantes, famílias, professores e poder público para debater cidadania, cultura e empreendedorismo

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No sábado (20), o Colégio Estadual Zumbi dos Palmares, em Tancredo Neves/Beiru, sediou o 1º Fórum Popular de Educação do Beiru e Adjacências. O encontro reuniu estudantes, professores, famílias, lideranças comunitárias e poder público, bem como organizações sociais em torno, portanto, de um objetivo comum: pensar a educação como motor de transformação social.

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Organizado pela Associação Mosaico de Amor, Projeto MOVA – Mobilização pela Valorização do Beiru, Catalisa Cidades e Movimento Via Cidadã/Fundação Paulo Cavalcanti, o evento trouxe à tona, dessa forma, reflexões sobre cidadania, parceria entre família e escola, segurança no ambiente escolar, cultura e empreendedorismo. Atualmente, o fórum significa um marco para o bairro.

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Educação como direito e potência comunitária

Logo na abertura, durante o painel Educação para a Cidadania, a estudante Mayara Eduarda de Jesus Santos, do 1º ano do Zumbi dos Palmares, emocionou os presentes.”Eu estou hoje nessa linha de educação e me sinto muito feliz por ter a oportunidade de vivê-la de uma forma boa. Mas eu peço que a gente pare para pensar: quantos meninos e meninas de 16 anos, da minha idade, não têm acesso à educação? Estar na escola, poder dividir experiências e aprendizados, é um direito meu e seu. Independente de idade, de cor, de onde a gente mora, é um direito de todos viver a educação.”

Na mesma mesa, o empreendedor social Jean Santos reforçou a dimensão transformadora da educação:

“Eu também sou fruto deste chão. Sou menino de periferia, de projeto social. Sou um homem negro, pai de família, e tudo que sou e faço hoje é resultado do caminho da educação. Uma educação que não se faz parada, mas em movimento. Aqui na nossa comunidade tem potência, tem alegria e tem tristeza, como em qualquer lugar. Mas o que não pode nos faltar é a coragem de sonhar. O Papa Francisco nos disse para não sermos ‘administradores de medo, mas empreendedores de sonhos’. E é isso que temos tentado fazer.”

Consciência e cidadania

O mediador do painel, Paulo Cavalcanti, presidente do Conselho Superior da Associação Comercial da Bahia, fez a palestra de abertura. O tema abordado por ele foi “Consciência cidadã participativa transformadora”, destacando a força da mobilização comunitária. “A ideia desse nosso encontro é de união, consciência cidadã, transformação. Não podemos deixar nossos bairros sozinhos, nem aceitá-los reduzidos a rótulos como ‘tomados’ ou ‘perigosos’. São territórios com história, com gente que estudou, cresceu e já transformou vidas. Hoje temos ferramentas e iniciativas concretas, como a que ocorreu nessa escola, que permitem aproximar comunidade, instituições e poder público em torno de um mesmo propósito: transformar realidades.”

Família e escola

No eixo “Família e Escola”, o diretor do colégio Zumbi dos Palmares, Anderson de Araújo, lembrou que a escola é muito maior que as salas de aula. “Nossa escola é um universo. Precisamos continuar trabalhando para derrubar os muros que nos separam das famílias. Não podemos fechar o espaço só para as aulas propriamente ditas. Mas aqui também é um momento de educação, aqui é um momento de aprendizagem, de troca de experiências, de conhecimento.. A escola tem que promover esse tipo de ligação com instituições, com a comunidade local.”

Essa integração também foi defendida pelo empreendedor social Evandro Cabral, que lançou a proposta de criação de um observatório educacional, logo em seguida:

“E se a sala de aula se estendesse para as ruas do bairro? E se os problemas do dia a dia, como o trânsito caótico ou a gestão do lixo, se tornassem o principal material de estudo para os alunos? A nossa proposta é criar um observatório em parceria com as escolas da comunidade. Queremos levar para a sala de aula os questionamentos que são nossos, que são do bairro. A ideia é muito prática: fazer com que os alunos associem o assunto estudado com os problemas daqui.”

O conselheiro tutelar Fábio Barreto alertou para o distanciamento de alguns pais. “O nosso objetivo primário é a educação da criança e do adolescente. Parece que os pais não se importam muito se os filhos vão ser educados na escola ou não. Para eles, o importante é estarem lá, porque o benefício não será bloqueado e nós precisamos mudar essa realidade.”

Cultura, juventude e novos caminhos para o futuro

No painel sobre cultura e empreendedorismo, a jovem Rebeca Barros, fundadora do Toque Feminino, trouxe a voz da juventude. “Em uma oficina de mobilização, perguntamos aos jovens quais eram os seus sonhos. As respostas foram cursar uma universidade ou ter uma educação de qualidade. Pode parecer estranho pensar que um direito básico seja um sonho, pois geralmente imaginamos sonhos como algo distante e inalcançável. Mas quando perguntamos o que os impedia de chegar lá, vimos o que realmente impacta a nossa geração. A barreira para esses jovens não era algo grandioso; era a falta de dinheiro para a passagem do transporte público, a impossibilidade de se deslocar para estudar. Isso mostra que, para transformar a realidade da educação, precisamos dar ‘vez, voz e volume’ à juventude. É preciso ouvi-los para entender quais são seus sonhos e, principalmente, quais são as dificuldades concretas que os impedem de alcançá-los.”

O ex-secretário municipal de Educação Ney Campello criticou o modelo escolar atual e questionou por que as famílias não participam da vida escolar, sugerindo que o “cardápio” oferecido é desinteressante e pouco atrativo, comparando-o a comer “chuchu todo dia”. Em contrapartida, Campello defendeu uma escola que seja “corpo e alma”, um espaço lúdico, criativo e livre. “Estamos presos em um túnel do tempo. A prosperidade é um direito de todos. Precisamos ocupar as escolas com novas ideias e criar um observatório educacional para propor políticas públicas baseadas em evidências.”

Já Márcio Lima, presidente estadual da Central Única das Favelas (CUFA), reforçou a potência econômica e cultural das favelas. Para ele, o objetivo não é necessariamente sair da favela, mas garantir que os moradores tenham a “possibilidade de escolher” seus próprios caminhos:

“Não se fala que a favela movimenta a economia de 300 bilhões por ano. Só fala do favelado morto, preso, sofrendo esgotamentos, mas não fala da potência que nós somos.”

Falas potentes sobre educação e sociedade

Além disso, representando o Batalhão de Policiamento Escolar, o capitão Duarte destacou o legado do Fórum. “A comunidade escolar, alunos, parentes, moradores, professores, todo mundo em torno de educação, de melhoria. A semente que nós estamos plantando hoje neste fórum é para isso.”

A programação contou ainda com a participação de Rafaela Brito, Técnica de Engajamento Estudantil da Secretaria de Educação da Bahia, além de pais e representantes de outros movimentos sociais. Em seguida, encerrando os depoimentos, um pai de estudante deixou um apelo pela presença ativa das famílias. “De vinte alunos, às vezes só aparecem os pais de dois: eu e mais uma mãe. Dezoito famílias ausentes. O que eu deixo para vocês hoje é este apelo: construam essa ponte. Sejam os amigos, os confidentes, a presença na vida dos seus filhos. Não terceirizem essa responsabilidade e não deixem que uma tela ocupe o seu lugar.”

O fórum contou ainda com a apresentação do grupo cultural Okan e dos jovens da Mobilização Musical, que deram o tom criativo, por isso reforçando a energia transformadora do encontro.

Um marco para o Beiru

Dessa forma, o 1º Fórum Popular de Educação do Beiru evidenciou que o futuro da educação no bairro passa pelo diálogo real entre escola, famílias, comunidade e poder público. Assim, as falas se entrelaçaram como prova de o Beiru é território de potência, criatividade e sonhos coletivos.

Fotos: divulgação

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