sexta-feira | 30.05 | 5:16 PM

Brasileiro completa 366 maratonas em 366 dias e inspira estudo inédito sobre adaptação do coração

Hugo Farias, ex-executivo, correu mais de 15 mil quilômetros em um ano e teve sua saúde cardíaca monitorada por médicos do InCor; estudo revelou que o esforço, embora extremo, foi bem tolerado com acompanhamento especializado

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Cumprir uma maratona por dia, durante um ano inteiro, foi o desafio assumido pelo brasileiro Hugo Farias, de 45 anos. Ex-gestor do setor privado, ele trocou a carreira executiva por um projeto esportivo extremo: percorrer 42,195 km diários por 366 dias consecutivos. O feito foi reconhecido pelo Guinness World Records como o maior número de maratonas completadas em sequência por uma única pessoa.

O projeto, que começou a ser planejado oito meses antes do primeiro dia de corrida, envolveu uma equipe multidisciplinar com profissionais de saúde e apoio logístico. Entre os parceiros, esteve o Instituto do Coração (InCor), da Faculdade de Medicina da USP, que aproveitou a oportunidade para estudar os efeitos cardiovasculares de um esforço físico contínuo em alto volume.

Foto: Divulgação

A pesquisa, publicada na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, acompanhou as adaptações do coração de Hugo ao longo do ano. Ele foi submetido a testes mensais de ergoespirometria e avaliações cardiológicas trimestrais, além da análise de marcadores de dano miocárdico. Segundo os resultados, não foram observadas alterações significativas nos níveis de troponina, substância que indica lesões no músculo cardíaco.

De acordo com os pesquisadores, a ausência de efeitos adversos foi atribuída ao controle da intensidade do exercício. Hugo manteve uma frequência cardíaca moderada durante as maratonas, o que permitiu ao organismo adaptar-se gradualmente ao esforço.

Arte: BBC Brasil

Cardiologistas que acompanharam o estudo destacaram que, embora o desafio tenha sido extremo, os impactos sobre o sistema cardiovascular foram positivos, reforçando o papel da atividade física regular — quando bem planejada e supervisionada — na promoção da saúde.

O cardiologista Filippo Savioli, que não participou da pesquisa, ressaltou que a experiência mostra a capacidade de adaptação do corpo humano a esforços prolongados. No entanto, ele alertou que desafios desse porte devem ser evitados por pessoas sem preparo prévio ou acompanhamento profissional, devido ao alto risco de complicações.

Foto: Clayton Damasceno

Durante o ano do projeto, Hugo enfrentou condições climáticas adversas, lesões e episódios de exaustão, mas conseguiu completar todas as etapas. Ele escolheu realizar o trajeto principal em Americana, interior de São Paulo, por facilitar a logística, permitir interação com o público e manter a segurança. Ao longo dos 366 dias, mais de 5 mil pessoas correram com ele.

Além do acompanhamento médico, Hugo contou com apoio psicológico para lidar com as mudanças em sua vida e manter a motivação. Após o término do projeto, ele escreveu um livro relatando a experiência e agora planeja uma nova meta: correr do Alasca até o extremo sul da América do Sul, cruzando o continente americano em 10 meses — o equivalente a cerca de 85 km por dia.

Hugo busca apoio financeiro para transformar a jornada em documentário e pretende usar o novo desafio como ferramenta para promover a prática da atividade física e inspirar pessoas a explorar seus próprios limites, com responsabilidade e consciência corporal.