sexta-feira | 13.06 | 9:49 AM

Centros especializados oferecem vacinas diferenciadas a grupos com condições de saúde específicas no SUS

Pacientes com diabetes, câncer, HIV, entre outras condições têm direito a vacinas diferenciadas nos Cries

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Além das mais de 20 vacinas oferecidas de forma rotineira nas unidades básicas de saúde em todo o Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) também disponibiliza imunizantes especiais ou versões específicas para pessoas com maior risco de desenvolver infecções. Esse atendimento é feito nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (Crie), informa Agência Brasil.

Apesar da importância do serviço, muitos ainda desconhecem sua existência, segundo alerta da presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Mônica Levi.

“Endocrinologistas, por exemplo, precisam saber que pacientes com diabetes têm direito a vacinas que não fazem parte do calendário padrão, já que eles são mais suscetíveis a determinadas doenças. O mesmo vale para pessoas com cardiopatias, doenças pulmonares crônicas ou em tratamento contra o câncer. Infelizmente, essa falta de conhecimento atinge tanto a população quanto parte dos profissionais de saúde”, afirma Levi.

O jornalista Rodrigo Farhad, diagnosticado com diabetes tipo 1 há dois anos, relata que sempre buscou manter sua carteira de vacinação atualizada, mas nunca foi orientado a buscar imunização diferenciada devido à sua condição:

“Durante a pandemia, acompanhei meu filho, que também tem diabetes, na vacinação contra a covid-19. Ele foi vacinado prioritariamente por causa da comorbidade. Mas nunca recebi uma orientação sobre a necessidade de vacinas especiais. E, no meu caso, nem mesmo me recomendaram verificar se minhas vacinas básicas estavam em dia”, disse.

De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, pessoas com diabetes devem, além do calendário básico, receber a vacina contra a influenza e a vacina pneumocócica 23, que protege contra 23 tipos da bactéria pneumococo, causadora de infecções como pneumonia, otite, meningite e sepse. Essa vacina, no entanto, está disponível apenas nos Cries. Também é indicada para pessoas com outras condições de saúde, como asma grave, doenças cardíacas e neurológicas crônicas, fibrose cística, HIV e pacientes oncológicos. Já a população em geral tem acesso à versão pneumo-10, que protege contra dez sorotipos da bactéria.

“Qualquer infecção pode descompensar uma condição de base, como diabetes ou asma. Pessoas com imunidade comprometida, seja por quimioterapia, transplante ou doença autoimune, muitas vezes não morrem da doença principal, mas de infecções secundárias. Por isso, é essencial considerar o risco maior e a mortalidade associada às infecções nesse público”, reforça Mônica Levi.

Os Cries também atendem bebês prematuros. A assistente social Yngrid Antunes, mãe de dois gêmeos nascidos com prematuridade extrema, conheceu o serviço na Clínica da Família de seu bairro. Ela levou os filhos Ísis e Lucas ao Crie da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, onde receberam oito vacinas.

“O atendimento foi rápido e eficiente. Os dois passaram por uma consulta com a imunologista, que explicou as doses específicas para o caso deles. Como nasceram prematuros, os cuidados devem ser redobrados. Eles tomaram vacinas ajustadas ao peso”, relatou.

Prematuros, como Ísis e Lucas, recebem vacinas com componentes acelulares contra doenças como difteria, tétano, coqueluche, meningite por Haemophilus, hepatite e poliomielite, uma formulação diferente da aplicada em bebês nascidos a termo e sem riscos adicionais.

Além disso, os Cries também administram imunoglobulinas, que são anticorpos prontos para agir em casos emergenciais. A imunoglobulina antitetânica, por exemplo, é usada em recém-nascidos ou pessoas com imunodeficiências em risco de exposição à doença. Já a imunoglobulina anti-hepatite B é indicada em casos como violência sexual, devido à forma de transmissão da infecção.

A coordenadora do Crie no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, Ananza Tainá da Silva Vilaça, informou que a unidade atende cerca de 400 pessoas por dia.

“Todos os dias recebemos vítimas de violência sexual, crianças com prematuridade extrema, pacientes com comorbidades ou imunossuprimidos, como pessoas com HIV ou em tratamento contra o câncer. Esse público, em vez de ir ao posto de saúde comum, recebe vacinas especiais designadas pelo Ministério da Saúde, com encaminhamento médico. No Crie, passam por avaliação com um médico ou enfermeiro antes de seguir para a sala de vacinação”, explica.

Desde fevereiro deste ano, o país conta com uma Rede de Imunobiológicos para Pessoas com Situações Especiais, que passou a coordenar o trabalho dos Cries. A proposta é assegurar a oferta contínua desses imunizantes e capacitar profissionais do SUS sobre o serviço.

A Sociedade Brasileira de Imunizações publica regularmente guias com orientações vacinais específicas para pessoas com condições clínicas especiais. O site do Ministério da Saúde também disponibiliza a sexta edição do Manual dos Cries, com todos os critérios técnicos e protocolos de aplicação dos imunobiológicos especiais.