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Francesa é identificada como única portadora do grupo sanguíneo raríssimo “Gwada negativo”

Descoberta foi oficializada por entidade internacional e representa um marco na medicina transfusional

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Uma mulher francesa originária da ilha de Guadalupe foi identificada como a única pessoa no mundo conhecida a possuir um novo grupo sanguíneo, batizado de “Gwada negativo”. A revelação foi feita nesta sexta-feira (20) pelo Instituto Francês de Sangue (EFS), confirmando informações divulgadas anteriormente pela emissora France Inter, informa G1.

A descoberta teve início em 2011, quando exames de rotina realizados antes de uma cirurgia detectaram um anticorpo incomum e desconhecido na paciente, então com 54 anos e residente em Paris. No entanto, as tecnologias disponíveis na época não permitiram avanços nas investigações.

Foi apenas a partir de 2019, com o avanço da sequenciação de DNA de altíssima velocidade, que os cientistas conseguiram identificar a origem genética do anticorpo e desvendar o mistério por trás do caso.

“Foi identificada uma mutação genética rara, que revelou um grupo sanguíneo completamente novo”, explicou o biólogo e farmacêutico Thierry Peyrard, responsável pela qualidade e segurança dos produtos sanguíneos do EFS.

O nome “Gwada negativo” faz referência às origens guadalupenses da paciente. Segundo os pesquisadores, a escolha foi bem recebida pela comunidade científica por ser curta, de fácil pronúncia em diferentes idiomas e representativa da origem do caso.

A oficialização do novo grupo sanguíneo ocorreu no início de junho, durante um congresso da Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue (ISBT), realizado em Milão.

Segundo Peyrard, o grupo é tão raro que a paciente é a única compatível com ela mesma em todo o planeta. Em casos de grupos raros, geralmente existem pequenos grupos compatíveis, muitas vezes irmãos ou familiares próximos. No entanto, no caso de “Gwada negativo”, ninguém além dela é compatível.

A equipe de pesquisadores do EFS está atualmente desenvolvendo um protocolo especial de triagem genética, com o objetivo de localizar outras possíveis pessoas portadoras do grupo sanguíneo, especialmente em Guadalupe e nas comunidades afro-caribenhas, onde pode haver maior incidência genética semelhante.

O grupo sanguíneo é resultado de uma herança genética recessiva, o que significa que a paciente herdou um gene mutado de cada um dos pais. Os irmãos da mulher são apenas portadores de um dos alelos, portanto, não manifestam o grupo sanguíneo raro, embora possam transmiti-lo a descendentes.

A descoberta do “Gwada negativo” expande o conhecimento sobre a diversidade genética dos grupos sanguíneos humanos e ressalta a importância da diversidade étnica nas pesquisas médicas, sobretudo em áreas como imunologia e transfusão sanguínea, onde compatibilidade pode ser uma questão de vida ou morte.