sexta-feira | 11.07 | 4:58 AM

Pacientes com câncer de mama avançado protestam por acesso a medicamentos no SUS

Manifestação em Brasília cobra liberação de tratamentos já aprovados e não ofertados na rede pública de saúde

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Na quarta-feira (9), pacientes oncológicas e representantes da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) realizaram uma manifestação em frente ao Ministério da Saúde, em Brasília, reivindicando a disponibilização, no Sistema Único de Saúde (SUS), de medicamentos para o tratamento do câncer de mama avançado e metastático. Os remédios já foram aprovados e incorporados ao SUS, mas ainda não estão acessíveis aos pacientes.

A mobilização faz parte da campanha “PCDT Rosa: quantos passos faltam?”, que chama atenção para a demora na implementação das terapias previstas no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do câncer de mama, publicado em dezembro de 2024. O protocolo padroniza os tratamentos disponíveis na rede pública e orienta a incorporação dos medicamentos em cada etapa da doença.

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“A função desse protocolo é regulamentar todas as linhas de cuidado do câncer de mama. Algumas medicações já haviam sido incorporadas em 2021 e 2022, mas ainda não eram oferecidas porque não havia uma regulamentação. O PCDT veio para preencher essa lacuna”, explica Mely Paredes, coordenadora de comunicação da Femama.

Mesmo com a publicação do PCDT há seis meses, os medicamentos para casos mais graves ainda não estão sendo disponibilizados. “Essas pacientes não ficam sem tratamento, mas recebem terapias que não são as mais adequadas para seus quadros clínicos”, pontua Mely.

Entre os remédios já incorporados ao SUS estão os inibidores de ciclina e a trastuzumabe entansina, aprovados por portarias publicadas em 2021 e 2022. Segundo a Femama, a ausência desses tratamentos na prática clínica compromete tanto a qualidade de vida quanto a sobrevida das pacientes.

A campanha da Femama compara a espera pelo acesso aos medicamentos a uma longa caminhada. Considerando que uma pessoa saudável dá, em média, 7 mil passos por dia, e que a incorporação das medicações começou em 2021, a estimativa é de que mais de 8,9 milhões de passos já tenham sido dados até junho de 2025, sem que os tratamentos estejam, de fato, disponíveis na rede pública.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil deve registrar cerca de 74 mil novos casos de câncer de mama por ano, sendo que aproximadamente 75% da população depende exclusivamente do SUS, informa Agência Brasil.

Presente no ato, a confeiteira Cintia Cerqueira, de 49 anos, relatou sua experiência com o câncer de mama metastático, diagnosticado em 2018. Em 2019, a doença já havia atingido os ossos e o cérebro. Desde então, ela passou por três craniotomias e diversas sessões de radioterapia.

Cintia precisou entrar com uma ação judicial para ter acesso à medicação recomendada por seu oncologista. Mesmo assim, enfrentou uma espera de oito meses. “Eles cuidam de quem tem chance de cura, mas não cuidam de quem não tem. Antes, eu não andava, vivia deitada. Hoje, ando e faço as tarefas de casa. Tudo mudou por causa da medicação”, afirmou.

Para ela, o maior sofrimento não é a doença em si, mas a exclusão. “Dói mais que o câncer saber que existe um medicamento que pode te dar vida, mas que você não tem acesso. Queremos o mesmo direito que os pacientes com câncer primário têm. Nossa luta é diária.”

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