terça-feira | 01.07 | 8:51 AM

Solar Orbiter registra imagens inéditas do polo sul do Sol

Missão da Agência Espacial Europeia obtém os registros mais detalhados já feitos da estrela, com potencial de revolucionar previsões sobre o clima espacial e proteger tecnologias na Terra

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A espaçonave Solar Orbiter, da Agência Espacial Europeia (ESA), enviou para a Terra as primeiras imagens e vídeos já registrados do polo sul do Sol. Os cientistas investiguem como o Sol alterna entre ciclos de intensa atividade, com tempestades solares violentas e fases de relativa calmaria.

O estudo é considerado essencial porque a atividade solar intensa pode afetar significativamente a infraestrutura terrestre, como as comunicações por satélite e até redes elétricas inteiras, informa BBC NEWS Brasil.

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As novas imagens revelam uma atmosfera brilhante e cintilante que, em algumas regiões, alcança temperaturas de até um milhão de graus Celsius. Entre essa atmosfera, aparecem nuvens de gás mais escuras, menos quentes, mas ainda assim com temperaturas elevadas, cerca de 100 mil graus Celsius. São os registros mais próximos e detalhados já feitos da nossa estrela. Segundo a professora Carole Mundell, diretora de Ciências da ESA, essas imagens são um avanço fundamental para compreender o funcionamento do Sol, fonte essencial de vida na Terra.

“Hoje revelamos as primeiras imagens do polo solar já vistas pela humanidade”, declarou a professora.

Ela ressalta a importância de entender o funcionamento do Sol, que apesar de ser vital à vida, pode também causar sérios impactos aos sistemas modernos de energia e comunicação, tanto terrestres quanto espaciais.

Da perspectiva terrestre, o Sol é observado como um disco uniforme devido ao seu brilho intenso. No entanto, com o uso de frequências diferenciadas e filtros especiais, é possível enxergá-lo como ele realmente é: uma esfera dinâmica de fluido com campos magnéticos instáveis que emergem, se contorcem e formam chamas e anéis de gás em sua atmosfera.

Esses campos magnéticos são responsáveis pelas erupções solares que, ao serem lançadas em direção à Terra, podem causar desde prejuízos tecnológicos até belas auroras no céu noturno.

Os cientistas já sabem que o Sol passa por períodos de estabilidade, quando os campos magnéticos estão organizados e seus polos magnéticos bem definidos. Nessas fases, não há explosões solares significativas. Porém, durante a inversão dos polos magnéticos, processo que ocorre aproximadamente a cada 11 anos, os campos se tornam mais caóticos e complexos. Isso dá origem a erupções intensas, que podem arremessar partículas solares até o nosso planeta.

Foto: ESA

A professora Lucie Green, do University College de Londres, explica que até hoje era difícil prever esses comportamentos com precisão, pois faltavam dados sobre como os campos magnéticos migram em direção aos polos. Com a missão do Solar Orbiter, esse cenário começa a mudar.

“Agora temos a peça do quebra-cabeça que faltava”, disse ela em entrevista.

A professora acrescenta que a reversão dos campos magnéticos polares do Sol é uma das grandes incógnitas da ciência atual. O Solar Orbiter permitirá, pela primeira vez, medir fluxos de fluido essenciais que carregam o campo magnético solar até os polos, o que poderá transformar os modelos computacionais que tentam prever o comportamento da estrela.

O Solar Orbiter também registrou imagens inéditas de elementos químicos presentes nas diferentes camadas do Sol, analisando seus movimentos. Para isso, foi utilizado um instrumento chamado SPICE, que capta frequências específicas de luz, conhecidas como linhas espectrais, emitidas por elementos como hidrogênio, carbono, oxigênio, neônio e magnésio sob temperaturas determinadas.

Pela primeira vez, a equipe do SPICE conseguiu rastrear essas linhas espectrais para medir a velocidade dos blocos de material solar, o que poderá ajudar a entender como o Sol emite partículas na forma de vento solar.

O objetivo central desse trabalho é construir modelos preditivos do chamado “clima espacial”, que possibilitem aos operadores de satélites, empresas de energia e até aos entusiastas das auroras planejar-se melhor diante de futuras tempestades solares.

“Este é o Santo Graal da física solar”, afirma o professor Christopher Owen, especialista no estudo do vento solar com os dados da espaçonave. Para ele, o Solar Orbiter permitirá desvendar os mecanismos fundamentais do clima espacial. No entanto, ele ressalta que ainda há muito trabalho a ser feito para alcançar a capacidade de prever com segurança as erupções que podem afetar a Terra.

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