terça-feira | 02.09 | 7:04 PM

Taxa de sobrepeso avança entre crianças e adolescentes baianos

Na Bahia, a alta no número de crianças e adolescentes com excesso de peso, de 10 a 19 anos, foi na mesma proporção, passando de 20%, em 2014, para 29%, em 2024

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Estudo divulgado pela Organização Não Governamental (ONG) ImpulsoGov revela um cenário alarmante, que envolve o excesso de peso de crianças e adolescentes no país, a partir da análise de dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Sistema Único de Saúde (SISVAN). O levantamento aponta que um em cada três indivíduos, com idades entre 10 e 19 anos, apresenta excesso de peso atualmente.

O percentual aumentou em todas as regiões do país entre 2014 e 2024: a taxa subiu de 23% para 32%, um crescimento de nove pontos percentuais em uma década. “Os dados indicam um aumento preocupante do excesso de peso entre a faixa etária avaliada, especialmente na população acompanhada pelo Bolsa Família, cuja tendência de crescimento é mais linear e sem grandes oscilações”, explica o instituto.

Na Bahia, a alta no número de crianças e adolescentes com excesso de peso, de 10 a 19 anos, foi na mesma proporção, passando de 20%, em 2014, para 29%, em 2024. Como explica a ImpulsoGov, nesta faixa etária, o cenário é de crescimento contínuo, o que reforça a importância de estratégias específicas voltadas a essa faixa etária.

Segundo dados divulgados na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, realizada pelo IBGE, mais da metade dos brasileiros entre 13 e 17 anos passava mais de três horas por dia sentados em frente a telas, seja assistindo televisão, jogando videogame ou usando celular, tablet e computador. Esse comportamento sedentário foi observado em 53,1% dos estudantes, refletindo uma rotina marcada por longos períodos de inatividade física.

Como explica Fernanda Soares, especialista em Saúde Pública e analista de Projetos na ImpulsoGov, o crescimento das taxas de excesso de peso reflete transformações no estilo de vida dos jovens brasileiros e a Bahia não foge a essa tendência. “O avanço da urbanização e a maior disponibilidade de alimentos ultraprocessados em supermercados e pequenos comércios, ajudam a criar um ambiente que favorece escolhas menos saudáveis, para a população que tem esse acesso e poder de escolha”, detalha.

A especialista ainda destaca que fatores socioeconômicos também pesam: “famílias de menor renda muitas vezes têm acesso limitado a alimentos frescos e acabam recorrendo a produtos industrializados mais baratos, mas ricos em açúcar, gordura e sódio. Essa combinação de ambiente alimentar desfavorável, desigualdades sociais e mudanças no padrão de lazer ajuda a explicar o aumento expressivo da obesidade entre adolescentes no país de forma geral”, completa Soares.

Dentre as cidades baianas com maior população e que registraram aumento em taxas de sobrepeso, obesidade ou obesidade grave, dentre jovens de 10 a 19 anos, estão: Salvador (passando de 26,8% em 2014, para 34,8% em 2024), Feira de Santana (de 30,5% para 32,6%), Camaçari (26,3% para 31,8%) e Vitória da Conquista (11% para 32,4%). No geral, os municípios do estado com maior percentual de jovens, desta faixa etária, com excesso de peso, são: Madre de Deus (58,6%), São Francisco do Conde (57%) e Dom Macedo Costa (42,5%).

Em todo o após, o levantamento aponta que a região Nordeste segue com os maiores percentuais (16,2% em 2024) em do excesso de peso de menores de 5 anos, indicando a persistência de desigualdades regionais no enfrentamento a esse cenário de saúde pública. No entanto, nesta faixa etária, o estudo revela queda do percentual das crianças com excesso de peso no Brasil, que caiu de 17,7% em 2014, para 13,9% em 2024, segundo dados do SISVAN.

Conforme Fernanda Soares, a redução proporcional do excesso de peso em crianças pequenas sugere que políticas públicas voltadas para a primeira infância (como acompanhamento nutricional na Atenção Primária, incentivo ao aleitamento materno e programas de suplementação) estejam sendo implementadas e tenham surtido efeito. “No entanto, à medida que as crianças crescem, entram em contato mais intenso com outro estilo de alimentação: passam a frequentar escolas e outros locais onde nem sempre há a possibilidade de ambientes alimentares saudáveis e, reduzem a atividade física cotidiana. Isso ajuda a explicar porque os adolescentes apresentam um aumento contínuo do excesso de peso”, analisa.

O relatório cita dados do Atlas Mundial da Obesidade 2024, publicado pela World Obesity Federation (WOF), que mostra que o mundo caminha para um aumento expressivo da obesidade infantil: se nenhuma medida eficaz for adotada, o número de crianças entre 5 e 19 anos com sobrepeso ou obesidade deve passar de 430 milhões em 2020 para 770 milhões em 2035, representando quase 40% das crianças do planeta. A ONG ImpulsoGov traz ainda dados que são motivo de alerta para o Brasil: em 2020, 34% das crianças no país apresentavam IMC elevado, e as projeções da WOF para 2035 indicam que 50% das crianças brasileiras terão sobrepeso ou obesidade.

Entre crianças de 5 a 9 anos, os números revelam a gravidade do cenário: o consumo de ultraprocessados atinge 83%, o maior entre as três faixas etárias; 60% fazem refeições assistindo à TV, e mais da metade consome regularmente bebidas adoçadas (66%) e guloseimas (59%). No caso das crianças de 2 a 4 anos, 71% consomem alimentos ultraprocessados; já para os jovens de 10 a 19 anos, o consumo gira em torno de 81%.

A combinação dos dois fatores de risco, má alimentação e sedentarismo, segundo a especialista do ImpulsoGov, leva ao comprometimento da saúde física e ao agravamento das desigualdades sociais, “já que as famílias com menos recursos encontram mais barreiras para oferecer alternativas saudáveis e de lazer aos seus filhos”. Como explica, o papel da ONG, através da realização de levantamentos como este, com base em dados públicos, é trazer à tona informações relevantes para a saúde da população brasileira e colocá-las no debate público.

“Nosso objetivo é apoiar a tomada de decisões, ajudando a prevenir doenças e salvar vidas. Somos uma organização sem fins lucrativos que fortalece o SUS trabalhando em parceria com governos, com soluções inovadoras baseadas em dados e tecnologia, oferecidas de forma gratuita para os profissionais de saúde pública. Nossas ferramentas ajudam a identificar riscos, garantindo diagnósticos precoces e intervenções rápidas. Já atendemos diretamente mais de 320 municípios brasileiros, por meio de diversos projetos”, informa.

 

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Fonte: Tribuna da Bahia

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Foto: Reuters/Brendan McDermid/Direitos reservados

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