A apresentação da Sinfonia nº 2, “Ressurreição”, de Gustav Mahler, pela Orquestra Sinfônica de Toronto, na última quarta-feira (26), contou com uma regência incomum: no lugar de um maestro profissional, o pódio foi ocupado por Mandle Cheung, um executivo do setor de tecnologia de 78 anos, que pagou cerca de US$ 400 mil (aproximadamente R$ 2,1 milhões) para reger o grupo por uma noite, informa portal O GLOBO.
Fã de música clássica e entusiasta desde os tempos de escola, Cheung tocava harmônica e sempre alimentou o desejo de conduzir uma orquestra sinfônica. O sonho ganhou forma com o apoio da própria instituição, que enfrenta desafios financeiros semelhantes aos de muitas organizações artísticas. A bilheteria cobre apenas cerca de 38% do orçamento anual da orquestra, estimado em US$ 24 milhões.
“Eu posso me dar ao luxo de fazer isso; esse é o principal ponto”, disse Cheung em entrevista. “Quando essa ideia me veio à cabeça, pensei: ‘Ei, talvez eu devesse tentar.”
Apesar das objeções de parte dos músicos, a administração da orquestra viu na proposta uma oportunidade de diversificar receitas e chamar atenção para sua programação. O concerto não integrou a temporada regular de assinaturas, sendo uma apresentação especial promovida pela Mandle Philharmonic, grupo fundado e liderado por Cheung em 2018.
Mark Williams, CEO da Orquestra Sinfônica de Toronto, afirmou que a decisão foi estratégica. “Vamos explorar maneiras apropriadas de gerar receita e continuar chamando atenção para a relevância do que fazemos.”
A escolha de Cheung para reger a complexa Sinfonia “Ressurreição”, obra escrita para orquestra completa, dois solistas e coro, com cerca de 90 minutos de duração , dividiu opiniões entre os músicos. A violinista Bridget Hunt, presidente do comitê consultivo artístico, reconheceu as dificuldades, mesmo após vários ensaios. “É complicado quando você tem alguém no pódio que não tem experiência”, disse. “Mas meus colegas foram incríveis. Nos unimos para fazer acontecer.”
Ela também destacou que o envolvimento financeiro de Cheung deve ser proporcional ao esforço artístico exigido. “O benefício para a orquestra precisa refletir o esforço necessário para montar algo assim.”
A experiência remete a outros casos semelhantes, como o do editor financeiro Gilbert E. Kaplan, que se tornou maestro amador e ganhou notoriedade por reger exclusivamente a mesma sinfonia de Mahler com orquestras de renome. Assim como Kaplan, Cheung também enfrentou resistência, mas concretizou seu desejo de estar à frente de uma orquestra profissional.