quarta-feira | 09.07 | 1:00 PM

Tapete de Corpus Christi em Brasília reúne arte, fé e histórias de superação

Cerca de 500 pessoas, principalmente jovens de periferias, participam da montagem do tapete de 130 metros na Esplanada dos Ministérios, destacando trajetórias de inclusão, fé e transformação social

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O artista plástico Alexandre Silva, de 45 anos, usou um pedaço de galho como pincel para criar sua obra na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta quinta-feira (19). Com a imagem de Maria desenhada em sua mente e no papel desde as primeiras horas da manhã, ele deu forma aos contornos que, ao final da manhã, se transformaram em um tapete para celebrar o Corpus Christi. Para Alexandre, a obra vai além de um simples desenho feito com serragem, palha de arroz, borra de café, sal e tinta: as cores simbolizam um novo começo.

Ele relata que sua vida mudou após entrar no movimento hip hop e fortalecer sua fé. Residente em Ceilândia, a maior região administrativa do Distrito Federal e área periférica, ele relembra os tempos difíceis da adolescência marcados pela violência. “Eu integrava uma gangue que entrava em confronto com outras. Muitos dos meus amigos morreram até eu completar 18 anos”, conta residente.

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Com medo, Alexandre foi encaminhado por um parente ao Movimento Jovens Organizando e Instituindo Amor (Joia), ligado à arquidiocese local. “No início, não queria ir, mas depois se tornou fundamental para mim”. Além da fé, ele encontrou suporte em outros artistas do hip hop de Ceilândia.

Getúlio Silva, de 48 anos, presidente do grupo e comerciário, emocionou-se ao ver a montagem do tapete. Ele lembra da importância da fé durante um momento difícil: a operação cardíaca da filha, aos oito meses de idade, que hoje tem 22 anos.

O tapete, que mede 130 metros de comprimento por quatro de largura, foi confeccionado com a participação direta de cerca de 500 pessoas, principalmente jovens de ao menos 25 grupos diferentes. A montagem ocorreu no gramado central da Esplanada, local onde, às 16h40, o cardeal arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cézar Costa, e outros religiosos devem passar para seguir à missa, marcada para às 17h.

Entre as trajetórias representadas no tapete está a do professor de filosofia Mateus Salgado, 31 anos, que é surdo. Junto com a esposa, Karla Watanabe, 30, ouvinte, projetou um desenho com mãos unidas, simbolizando um pedido de inclusão, tanto para Deus quanto para a sociedade. O desenho foi feito inicialmente no papel e depois em computador, para ser reproduzido no chão por Gustavo Bustamante, digitador e membro da pastoral dos surdos, que também gosta de desenhar.

“A sociedade precisa acolher mais os surdos, que são muito esquecidos. Precisamos usar todas as formas para dar visibilidade à luta deles”, destaca Karla. Mateus, visivelmente emocionado, comenta: “Sinto uma emoção profunda ao transmitir nossa mensagem”.

Nas proximidades, grupos de jovens animavam o local com músicas de fé, amor, união e reconciliação, tocando violão e dançando. Um dos tapetes, que trazia o símbolo da eucaristia, foi criado por jovens de Samambaia Sul, outra região periférica próxima à capital.

A estudante de nutrição e catequista Rafaela Almeida, de 21 anos, destaca o papel da fé para afastar jovens das drogas e do crime. “Todos precisam se apoiar mutuamente. Quando fazemos o tapete, também mostramos as transformações que vivemos”.

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