Os olhos de Jenna Ortega surgem levemente borrados, envoltos por sombras escuras. Sua pele está propositalmente pálida, com as maçãs do rosto marcadas por tons acinzentados. Nos lábios, um leve roxo completa a expressão de cansaço. Essa é a proposta da mais nova tendência de maquiagem entre a Geração Z: a “Tired Girl” (Garota Cansada), que exibe com orgulho a aparência de quem não dormiu.
Historicamente, olheiras e traços de fadiga foram combatidos com corretivos, iluminadores e outros cosméticos, por estarem associados a má saúde, envelhecimento e perda de atratividade. A estética Tired Girl faz o oposto: abraça essas imperfeições, redefinindo o que é considerado belo, informa CNN Brasil.
Referências visuais anteriores incluem personagens como Lisa em Garota, Interrompida (Angelina Jolie) e Mathilda em O Profissional (Natalie Portman). Hoje, o rosto mais representativo da tendência é Ortega como Wandinha Addams, da série da Netflix dirigida por Tim Burton. O estilo da personagem, com olheiras proeminentes e aparência soturna, foi levado por Ortega também ao tapete vermelho da estreia da segunda temporada.
Celebridades como Lily Rose-Depp, Gabbriette, Emma Chamberlain, Danielle Marcan e Lara Violetta também popularizam a tendência. No TikTok, onde a hashtag #TiredGirlMakeup já reúne milhares de tutoriais, vídeos com o passo a passo da maquiagem somam mais de 300 mil visualizações.
A influenciadora Lara Violetta, por exemplo, cria o efeito com sombras escuras propositalmente mal aplicadas e descreve as olheiras como “chiques”, pois é preciso “trabalhar para conquistá-las”. O visual é desfeito, intencionalmente bagunçado e com uma pegada rebelde.
“É uma celebração da realidade”, afirma Kim Brown, maquiadora e diretora de beleza da revista Glass. “O visual da Tired Girl tem atitude e personalidade. É durão e descolado.”
Importante destacar que o estilo não deve ser confundido com o visual gótico, que carrega um peso mais dramático, nem com a estética aegyo-sal, tendência coreana que enfatiza o inchaço sob os olhos para dar ar juvenil.
A moda grunge dos anos 90, imortalizada por Courtney Love, talvez seja o parente mais próximo da Tired Girl. Ainda assim, especialistas como Dan Hastings-Narayanin, do The Future Laboratory, veem a tendência como parte do fenômeno transitório das estéticas “core” da internet, como Barbiecore ou cottagecore.
“É uma maneira rápida de mostrar quem você é ou como está se sentindo”, explica Hastings-Narayanin. No entanto, ele ressalta que tais modas são passageiras, com forte apelo comercial e propensas a desaparecer com a próxima tendência viral.
O estilo de maquiagem da personagem Wandinha reflete essa estética com toques de realismo e minimalismo. Segundo a maquiadora Tara McDonald, que trabalhou com Ortega na primeira temporada da série, a base usada era propositalmente mais clara do que o tom natural da atriz, e as olheiras foram mantidas em evidência. “A sombra era escura, mas aplicada de forma leve. E os lábios, corados como se tivessem sido mordidos, eram parte essencial do look.”
Para Nirvana Jalalvand, maquiadora da segunda temporada, a proposta era manter Wandinha fiel à sua essência. “Ela não é do tipo que passa horas se arrumando. Tem coisas mais importantes para fazer.”
Dessa forma, o visual também se posiciona como antítese da estética “clean girl”, marcada por pele impecável e maquiagem suave, defendida por nomes como Hailey Bieber e Kendall Jenner. A Tired Girl, ao contrário, sugere desleixo consciente, naturalidade com atitude, e é parte de uma nova forma de expressão visual.
Essa mudança não se limita à maquiagem. Jalalvand observa que até a forma como os jovens postam fotos nas redes sociais mudou, com “photo dumps” e imagens desfocadas ganhando espaço. “Estamos vendo uma reação ao perfeccionismo. A estética bagunçada é uma resposta direta à cultura da perfeição.”
A aplicação da maquiagem Tired Girl é simples e democrática. “Qualquer pessoa pode fazer”, diz McDonald. “Você não precisa de pincéis, nem de muita habilidade.”
Apesar de sua natureza efêmera, a tendência pode revelar aspectos mais profundos das gerações mais jovens. Segundo Hastings-Narayanin, o visual é reflexo das pressões que a Geração Z enfrenta: da vida acadêmica e financeira às expectativas sociais e ambientais.
“Mostrar vulnerabilidade e usar o humor sombrio se tornam formas de lidar com tudo isso. É como dizer: ‘estou exausto, não sei o que vem pela frente, então vou rir do caos’”, conclui.
