sexta-feira | 13.06 | 12:01 AM

Campanha resgata roupas descartadas no Atacama e transforma lixo têxtil em consumo consciente

Deserto chileno virou um dos maiores depósitos de resíduos da moda no mundo. Ação conjunta entre ONGs e empresa brasileira distribui roupas recuperadas por loja online, sem custo pelas peças, apenas pelo frete

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Uma iniciativa inédita tenta reverter o cenário crítico enfrentado pelo deserto do Atacama, no Chile, que vem se consolidando como um dos maiores pontos de descarte de roupas do mundo. Estima-se que, anualmente, cerca de 40 mil toneladas de roupas, em sua maioria oriundas de marcas de fast fashion dos Estados Unidos e da Europa, sejam abandonadas na região.

A campanha, chamada Atacama RE-commerce, tem o objetivo de recuperar parte dessas peças têxteis descartadas. As roupas, depois de selecionadas, higienizadas e restauradas, são disponibilizadas gratuitamente em uma loja virtual. O único custo para quem deseja adquiri-las é o pagamento do frete, referente à retirada dos itens do deserto.

A ação é resultado de uma colaboração entre diferentes organizações e empresas. Entre os principais envolvidos está a ONG chilena Desierto Vestido, que atua desde 2019 para promover a economia circular e denunciar os impactos ambientais da indústria da moda. A campanha conta ainda com o apoio da agência de comunicação brasileira Artplan e da plataforma digital Vtex, responsável pelo comércio eletrônico da ação.

“Percebemos que não era apenas um problema ambiental, mas também um retrato extremo da crise gerada pelo consumo desenfreado da moda”, explicou Pedro Maneschy, diretor de criação da Artplan. A proposta do projeto é usar o próprio mecanismo do comércio para gerar engajamento ambiental. “Cada retirada de roupa ajuda a limpar o deserto e a provocar reflexão sobre o excesso de consumo”, completou.

A cofundadora do Desierto Vestido, Jean Karla Zambrana Avilés, destacou o papel da colaboração internacional na criação da campanha. “Foi um processo de aprendizado mútuo. Nossos parceiros nos ensinaram sobre gestão de projetos e nós os ajudamos a compreender a gravidade do problema do fast fashion”, afirmou.

O projeto teve início com uma ação simbólica em 2023: o Atacama Fashion Week, um desfile ao ar livre com roupas recuperadas do aterro têxtil. A repercussão levou à criação da campanha atual. A primeira coleção lançada pela plataforma esgotou em apenas cinco horas, com mais de 200 mil pessoas registradas à espera de novos lançamentos. Informações relatadas pelo G1.

Segundo os organizadores, a campanha não se limitará a uma iniciativa pontual. Estão em andamento tratativas com a Universidade do Chile para desenvolver um modelo sustentável, que transforme a operação em fonte de renda para a comunidade local e amplie o impacto social e ambiental.