quinta-feira | 24.07 | 10:48 PM

Ilhas tropicais isoladas do Atlântico abrigam 44 espécies únicas de peixes recifais, revela estudo

Pesquisa com cientistas brasileiros e dinamarqueses identifica hotspots de biodiversidade marinha e destaca importância ecológica das ilhas da Dorsal Mesoatlântica

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Um novo estudo publicado na quarta-feira (16/7) na revista científica Proceedings of the Royal Society B identificou que quatro ilhas tropicais isoladas do Oceano Atlântico, São Pedro e São Paulo (Brasil), Ascensão e Santa Helena (territórios britânicos), são habitat exclusivo de 44 espécies de peixes recifais que não existem em nenhum outro lugar do mundo.

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Essas ilhas, localizadas ao longo da Dorsal Mesoatlântica, funcionam como refúgios de biodiversidade. A descoberta foi realizada por pesquisadores das universidades federais de Santa Catarina (UFSC), do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Técnica da Dinamarca, informa Metrópoles.

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A equipe científica analisou a distribuição e as características de 1.637 espécies de peixes recifais no Atlântico, investigando ainda as rotas evolutivas e os padrões de dispersão de 88 espécies da região com base em dados genéticos e filogenéticos.

De acordo com o estudo, cerca de 70% das espécies não endêmicas encontradas nessas ilhas têm origem no Atlântico Oeste, principalmente nas águas do Caribe e da costa brasileira. Entre os peixes que são exclusivos das ilhas, mais de um terço parece ter origem no Atlântico Leste, e aproximadamente 11% vieram de áreas ainda mais distantes, como o Oceano Índico.

O estudo também revelou um dado surpreendente: duas espécies endêmicas, Scartella nuchifilis e Thalassoma ascensionis, aparentam ser mais antigas do que a própria ilha de Ascensão, onde vivem atualmente. Segundo os pesquisadores, essa persistência pode estar relacionada a montes submersos entre Ascensão e Santa Helena e às variações no nível do mar, que teriam possibilitado a sobrevivência das espécies mesmo com mudanças ambientais ao longo de milhões de anos.

Os cientistas também analisaram características ecológicas que explicam como essas espécies conseguem habitar ilhas tão isoladas. Em comparação com outros peixes recifais, os que vivem na Dorsal Mesoatlântica tendem a ter maior tamanho corporal, capacidade de atingir maiores profundidades e estratégias reprodutivas que favorecem a dispersão, como a produção de ovos pelágicos, que flutuam na água por semanas, além da habilidade de aderir a algas, troncos e outros materiais levados pelas correntes marítimas.

“Ilhas remotas como essas são hotspots de endemismo e nos ajudam a entender como a vida marinha se espalha e se adapta ao longo do tempo. Mas também são ecossistemas vulneráveis e cada espécie única perdida é uma peça insubstituível do quebra-cabeça evolutivo”, afirma Isadora Cord, pesquisadora da UFSC e principal autora do estudo.

O professor Sergio Floeter, também da UFSC e coautor do artigo, destaca que o estudo abre novas perspectivas. “Os ambientes recifais mesofóticos dessas ilhas, entre 80 e 120 metros de profundidade, ainda são pouco explorados. Como estão fora do alcance do mergulho científico convencional, podem esconder espécies e padrões ecológicos que ainda desconhecemos”, afirma.

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