Uma nova ferramenta de inteligência artificial desenvolvida pelo Google está transformando a forma como vídeos são produzidos. Chamada de Veo 3, a tecnologia permite a criação de vídeos realistas com personagens, falas, expressões emocionais, trilhas sonoras e até sotaques, tudo a partir de comandos escritos em linguagem natural, informa Fantástico.
Com o uso da Veo 3, é possível gerar vídeos com atores fictícios e diálogos personalizados apenas fornecendo um texto descritivo, conhecido como prompt. O sistema transforma o conteúdo textual em som e imagem de forma automatizada.
“Ela consegue criar vídeos realísticos para qualquer situação que você imaginar, apenas digitando um comando de texto. É como fornecer um roteiro para que a IA gere o conteúdo”, explica Brunno Sarttori, especialista em inteligência artificial.
Além das imagens e falas, a ferramenta permite controlar o tom emocional dos personagens e inserir efeitos sonoros ou trilhas musicais, também por meio de simples instruções escritas. “Você pode pedir que o ator fale de forma triste, emocionada… Basta indicar isso no prompt”, acrescenta Sarttori.
Arlindo Galvão, professor do Instituto de Informática da Universidade Federal de Goiás, ressalta que comandos simples, escritos como se fala no dia a dia, já são suficientes para produzir resultados impressionantes. Um exemplo demonstrado em reportagem do Fantástico utilizou o comando “Eu em Paris numa época marcante”. O resultado mostrou uma cena ambientada no século XIX, durante a construção da Torre Eiffel.
Em outra demonstração, um personagem extraterrestre foi colocado em uma praia no Rio de Janeiro. Quando questionado pela repórter fictícia sobre o que achava da Terra, o ET respondeu: “Cara, melhor que Júpiter, com certeza. Só achei o açaí meio caro.”
A apresentadora criada por IA, Marisa Maiô, também protagonizou momentos cômicos. Em uma das interações, pergunta a uma médica: “Qual é o segredo para não ter mais espinhas?”, e recebe a resposta: “É só parar de ter.” Marisa então conclui: “Obrigada, gente. Essa foi a inútil da médica.”
O criador da personagem, Raony Philips, revela que o conteúdo viralizou e muitos acreditaram que o programa fosse real. “Postei como uma grande brincadeira, e de repente vi pessoas perguntando por que a Marisa Maiô não existia de verdade.”
Philips destaca que, apesar do avanço da IA, o elemento humano segue essencial. “Sem o texto e o trabalho criativo por trás, aquilo não teria o mesmo impacto. Ainda estou surpreso com a repercussão.”
Com a facilidade de criação de vídeos realistas, cresce também a preocupação com a disseminação de conteúdos falsos. Para lidar com esse desafio, pesquisadores da Unicamp desenvolveram uma ferramenta de detecção de vídeos gerados por IA. O sistema analisa rostos e outros elementos dos vídeos em diferentes etapas para identificar sinais de manipulação.
“Hoje, uma pessoa comum pode não conseguir diferenciar um vídeo gerado por IA de um vídeo real. É necessário usar outra IA para detectar essas falsificações”, explica Anderson Rocha, professor do Instituto de Computação da Unicamp. O pesquisador Gabriel Bertocco complementa: “O sistema analisa os rostos e realiza diversos processamentos em sequência para identificar anomalias.”
A tecnologia já está sendo aplicada em investigações do Ministério Público, embora ainda precise de atualizações para acompanhar os vídeos mais recentes gerados por ferramentas como a Veo 3. “É como uma disputa constante, um jogo de gato e rato”, afirmam os pesquisadores.
Para evitar abusos, empresas responsáveis por essas tecnologias impõem restrições. Segundo Galvão, comandos que envolvam violência, conteúdo abusivo ou desinformação são automaticamente bloqueados pelo sistema.
“Existem diretrizes definidas pelas próprias empresas. Quando um comando ultrapassa certos limites, o conteúdo não é gerado”, explica o professor.
O avanço das ferramentas de IA gera tanto preocupação quanto curiosidade no meio artístico. “Como artista, a gente tem medo do impacto que isso pode ter sobre nosso trabalho”, admite Raony Philips. “Mas, ao mesmo tempo, é importante conhecer a tecnologia para saber como ela funciona e como pode ser usada de forma criativa.”
A principal recomendação diante de conteúdos hiper-realistas criados por IA é manter o senso crítico. “Desconfie. Questione aquilo que está vendo”, alertam os especialistas.