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Festival celebra São Pedro em Salvador e homenageia Mestre Chicão

Evento gratuito no bairro da Liberdade reúne quadrilhas de diversos bairros e valoriza tradições populares nordestinas

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Salvador tem ampliado seu calendário de festas populares e, além de ser reconhecida nacionalmente pelo Carnaval, destaca-se também pelas celebrações juninas, que têm se tornado igualmente atrativas e concorridas. Esse crescimento pode ser observado, entre outros aspectos, pelo número cada vez maior de artistas envolvidos nas festas, informa A TARDE.

Mesmo após o encerramento do São João, a comemoração continua para os baianos. O São Pedro, celebrado logo após, também é considerado uma data significativa dentro da cultura nordestina. Neste domingo, 29, das 10h às 16h, o Largo do Sieiro será palco do Festival de Quadrilhas Juninas da Liberdade – Uma Homenagem ao Mestre Chicão.

A idealizadora do projeto, Soiane Gomes, pesquisadora da cultura junina e integrante de quadrilhas destaca o valor simbólico da celebração de São Pedro na Bahia. Segundo ela, essa festividade está também ligada à religiosidade afro-brasileira, especialmente nos cultos a determinados orixás do candomblé.

Com foco em proporcionar uma celebração comunitária, Soiane afirma que o evento contará com uma praça decorada e colorida, forró, animação e um ambiente seguro e acolhedor.

Valorização cultural e retomada de tradições

O evento, promovido pelo Fórum Permanente de Quadrilhas Juninas, tem como objetivo a retomada dos festivais juninos nos bairros periféricos de Salvador, bastante populares nas décadas de 1980 e 1990. A proposta é incentivar a formação de novas quadrilhas, fortalecer as tradições locais e estimular a organização comunitária.

Gratuito, o festival busca reconectar as comunidades com suas raízes por meio de espetáculos coreografados, trajes típicos e a simbologia do casamento na roça. Dez quadrilhas, tradicionais e estilizadas, tanto infantis quanto adultas, participam da programação, representando bairros como Liberdade, Massaranduba, Boca do Rio, Narandiba, São Caetano, Engenho Velho de Brotas e Cabula.

Soiane também explica que a quadrilha junina tem origem nas festas camponesas da Europa pré-cristã, que celebravam as mudanças de estação, colheita e fertilidade da terra. Ao ser trazida para o Brasil, a dança se mesclou com elementos da cultura indígena, como a fogueira e os cânticos em louvor à colheita de alimentos como o milho. Foi com a intervenção da Igreja Católica que a prática passou a ser incorporada aos festejos religiosos do mês de junho, consolidando-se como a quadrilha junina que conhecemos hoje.

Mudanças e permanências

Quanto às transformações pelas quais o estilo de dança tem passado ao longo dos anos, o diretor da quadrilha mirim Flôr de Chita, Cleber Borges, defende que a evolução é natural, embora algumas mudanças possam descaracterizar a tradição. “Sou a favor, em parte, dessas mudanças, porém existem pessoas que deturparam as ideias que vieram para contribuir”, comenta. Para ele, o mais importante é promover a convivência e a integração comunitária por meio da festa.

Homenagem a um nome histórico das quadrilhas juninas

Foto: Divulgação

O evento presta tributo a Francisco Pedro Ribeiro Rocha, o Mestre Chicão, nascido em Itaparica e residente na Liberdade desde a infância. Reconhecido por sua dedicação às festas juninas, Chicão foi um dos fundadores da tradicional quadrilha João Froxó nos anos 1970, além de ter criado a Sapeca Yaiá, formada por idosos do Centro Social Urbano da Liberdade.

Artista e vitrinista, Mestre Chicão se destacou como figura central no fortalecimento das manifestações populares da época junina. Foi premiado diversas vezes e, posteriormente, passou à condição de hors-concours. “Ele fundou três grupos de quadrilhas juninas, apoiou grupos de outros bairros e prestou assessoria a grandes eventos da época”, recorda Soiane Gomes.

Ela reforça que a homenagem busca preservar a memória cultural da cidade e apresentar a importância histórica de Mestre Chicão às novas gerações. “Ele desenvolveu espetáculos belíssimos e foi campeão de muitos concursos. É importante homenageá-lo para que sua história seja conhecida por quem não teve a oportunidade de vivenciá-la”, afirma.

Daniele Rocha, filha de Mestre Chicão, destaca o legado deixado por seu pai: “Mais do que memórias, hoje temos amigos que continuam envolvidos em projetos de quadrilhas juninas graças à semente plantada por ele. Projetos como este mostram que estamos tratando de algo maior do que dança e competição, estamos falando de história, de nossas raízes e da valorização da cultura nordestina.”

O Festival de Quadrilhas Juninas da Liberdade é realizado com apoio do edital Territórios Criativos II, através da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador, Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), Ministério da Cultura e Governo Federal.