O anúncio feito pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na quarta-feira (9), sobre a aplicação de tarifas de até 50% na importação de produtos brasileiros gerou forte repercussão entre entidades empresariais do Brasil. Em uníssono, as organizações defenderam mais equilíbrio diplomático e criticaram o caráter ideológico da medida, informa Agência Brasil.
O Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) classificou a decisão como fruto de um embate pessoal entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontando a ausência de justificativas técnicas ou econômicas. “A decisão ultrapassa os limites da diplomacia ao usar tarifas como instrumento de disputa ideológica. Faltam argumentos concretos que sustentem essa tarifa”, afirmou a entidade, lembrando que, nos últimos dez anos, os Estados Unidos acumularam superávit de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens com o Brasil, se considerados os serviços, o valor chega a US$ 256,9 bilhões.
Em resposta à medida, o presidente Lula declarou que o país responderá com base na Lei de Reciprocidade Econômica, reforçando a soberania nacional. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) reforçou que a medida norte-americana se baseia em “razões não econômicas” e viola normas do comércio internacional, acrescentando que o momento exige serenidade e diálogo. “A soberania nacional é inegociável”, afirmou em nota.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também se manifestou, defendendo a intensificação dos canais diplomáticos e paradiplomáticos como forma de encontrar uma solução negociada, ressaltando ainda a importância histórica das relações entre Brasil e EUA. A entidade destacou o papel estratégico dos Estados Unidos na economia do estado do Rio, especialmente nos setores de energia e manufatura de alto valor agregado. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) sugeriu cautela ao avaliar possíveis medidas de retaliação, temendo prejuízos à sociedade e ao setor produtivo nacional. Para a Fiemg, é essencial manter o diálogo com esse “parceiro estratégico”.
A Abit, Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, enfatizou a necessidade de restabelecer um ambiente de confiança e previsibilidade nas relações bilaterais, criticando ações unilaterais que comprometem os interesses mútuos e o desenvolvimento econômico. A Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) expressou preocupação com a perda de competitividade frente a países como Itália, Turquia, Índia e China, cujas tarifas são mais baixas. A entidade informou que está em diálogo com autoridades brasileiras e parceiros para mitigar os efeitos da decisão.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AmCham) alertou para os potenciais impactos negativos da tarifa sobre empregos, investimentos e cadeias produtivas entre os dois países. A AmCham defendeu a retomada urgente de um diálogo construtivo e negociado. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) classificou a decisão como “inadmissível” e contrária aos princípios do comércio internacional, pedindo que decisões de alto impacto sejam tomadas com base em diálogo e construção de consensos.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), por sua vez, criticou a falta de articulação da diplomacia brasileira para antecipar medidas que afetam setores estratégicos. A Faesp defendeu o engajamento técnico e político para evitar danos econômicos. Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) afirmou que a decisão representa um retrocesso grave nas relações comerciais, podendo impactar negativamente toda a cadeia produtiva do café, um dos principais produtos de exportação do Brasil. A entidade lembrou que os EUA são o maior consumidor mundial de café e dependem dos países produtores, como o Brasil, para suprir seu mercado interno.