quinta-feira | 09.05 | 10:18 AM

A última de Carnaval

Como explicar a loucura dessa mistura entre uma cidade que virou país, e uma festa de 7 dias que dura um ano?

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Por Pedro Leo 

Há 12 dias atrás nos despedimos oficialmente do Carnaval, porém em Salvador ele insiste em se estender em nossas mentes por mais algum tempo. Talvez porque a relação da festa com a nossa cidade seja diferenciada. É uma cidade que respira Carnaval. E quando se trata do Carnaval de rua, essa química é simplesmente inigualável. Durante os dias de folia, as ruas se transformaram em verdadeiros palcos para a celebração da cultura, da música e da ancestralidade que caracterizam essa festa tão emblemática.

Salvador, suas ruas e o Carnaval, é uma equação que pode ser sentida em cada esquina, em cada batida dos tambores e em cada sorriso estampado no rosto dos foliões. É uma simbiose que se fortalece a cada ano, alimentada pela paixão dos soteropolitanos pela sua cidade e pela tradição carnavalesca que a torna única no mundo.

A sinergia entre Salvador e o Carnaval de rua se manifesta de diversas formas. Desde a preparação dos artistas baianos, que mobilizam milhares de pessoas em uma verdadeira maratona de ensaios e preparativos, até a participação ativa da comunidade local, que se prepara para viver a festa de corpo e alma.

Mas a verdadeira essência dessa relação está na energia que emana das ruas durante o Carnaval. É uma energia contagiante, que une pessoas de todas as idades, classes sociais e origens em uma grande celebração da vida e da cultura baiana. É uma energia que transcende barreiras e diferenças, criando laços de amizade e solidariedade entre desconhecidos. Nas pipocas que arrastam multidões, na plasticidade dos blocos afro, na irreverência das fantasias, na nostalgia das fanfarras e até mesmo no protesto da “Mudança do Garcia”, o Carnaval de rua pulsa e se faz presente.

Porém, a relação entre Salvador e o Carnaval de rua vai muito além de entretenimento e cultura. É manifestação popular no sentido raiz da expressão. É manifesto. É povo. É rua. E contrariando a música de Los Hermanos que diz que “Todo carnaval tem seu fim”, o de Salvador não tem. É um eterno looping. É a única cidade no mundo que na quarta-feira de cinzas o carnaval não acaba, e sim começa a contagem regressiva para o próximo. É a Bahia né? Não, é Salvador. E aqui nesse país tudo é diferente.

 

Foto: Paula Fróes/CORREIO