Por Valéria Casseb
Vergonha, medo, insegurança, desinformação…
Por trás de todo o “azul” que envolve o mês de novembro – e as ações que “conscientizam” o homem sobre prevenção – existem questões culturais que precisam ser debatidas como problemas de saúde pública e crenças que devem ser desmistificadas.
A tão falada masculinidade tóxica e todo mal que ela causa às relações (inclusive a relação consigo mesmo), é resultado de uma sociedade que ensinou que os homens devem esconder seus sentimentos e não demonstrar fragilidades. Isso obviamente causa muitas frustrações e traz consequências negativas como a negligência com a própria saúde e o agravamento de doenças físicas e psicológicas.
Por que os homens não buscam ajuda?
Sabemos que os tabus e preconceitos contribuem para o fato de o homem ainda ser reticente em relação à procura pelos serviços de saúde. Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde, um em cada cinco homens americanos morre antes dos 50 anos, sendo que muitas dessas mortes tem relação direta com questões socioculturais.
De uma forma geral, os homens ainda têm muito mais dificuldade de se reconhecerem doentes, o que faz com que eles representem a maioria dos casos graves nos atendimentos de emergência. Mais de 60% dos homens só buscam ajuda médica quando realmente existe risco à sua saúde e muitos relatam medo e ansiedade como principais fatores para deixarem a saúde de lado.
O outubro pode ser azul e o novembro rosa? Talvez. Mas antes que não mais precisemos escolher cores para definir públicos, o caminho é longo. É preciso desconstruir esse arquétipo masculino que vem da ideia equivocada de que o homem deve ser forte, viril, seguro e insensível – ideia essa que se perpetua no universo feminino, inclusive.
Os debates e ações da campanha deste mês podem e devem abranger aspectos psicológicos, ampliando a compreensão da realidade masculina dentro de um contexto sociocultural.

