sexta-feira | 13.06 | 4:58 PM

Explosão em posto reacende debate sobre segurança de veículos com GNV no Brasil

Acidente no Rio de Janeiro deixou dois mortos, especialistas alertam para riscos do uso irregular e reforçam importância da instalação e manutenção certificadas pelo Inmetro

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Uma explosão ocorrida em um posto de combustíveis no Rio de Janeiro (RJ), no último sábado (7), resultou na morte de duas pessoas. O acidente aconteceu durante o abastecimento de um veículo com gás natural veicular (GNV) e reacendeu discussões sobre a segurança dos carros que utilizam esse tipo de combustível.

Segundo especialistas consultados pelo g1, tanto o GNV quanto a gasolina e o etanol são inflamáveis e, portanto, podem explodir. A diferença é que o GNV já se encontra na forma de vapor, o que o torna mais suscetível a explosões em caso de vazamentos.

“O GNV é um gás e é muito volátil. Assim, qualquer pequeno vazamento de gás já permite uma explosão. O gás é muito mais incendiário e explosivo do que o combustível líquido”, explica o mecânico Rui Camargo Barroso.

Marcos Barradas, coordenador-geral de Acreditação do Inmetro, afirma que a maioria dos acidentes está relacionada à negligência dos usuários, como a instalação em oficinas não autorizadas, a ausência de inspeções anuais e a falta de manutenção adequada dos cilindros e demais componentes.

Entre os principais riscos do uso irregular do GNV estão:

  • Explosões durante o abastecimento, com risco à vida e danos materiais;

  • Vazamentos de gás, com potencial para intoxicação e asfixia;

  • Incêndios causados por falhas técnicas ou peças mal instaladas.

Adriano Daré, proprietário de uma oficina especializada em conversões para GNV, afirma que acidentes envolvendo equipamentos devidamente homologados são extremamente raros. Segundo ele, após realizar mais de 30 mil conversões desde 2002, nunca presenciou uma ocorrência envolvendo sistemas certificados.

Daré destaca que a causa mais comum das explosões são erros humanos e o uso de equipamentos irregulares, como:

  • Cilindros reaproveitados ou danificados;

  • Fadiga de material;

  • Soldagens não autorizadas ou clandestinas.

O mecânico alerta que cilindros expostos a altas temperaturas perdem resistência estrutural, mesmo que visualmente pareçam intactos. “Quando ele passa por uma situação de alta temperatura, ou qualquer outro fator que comprometa sua integridade, o cilindro perde completamente sua resistência e se transforma em uma granada”, explica.

Daré relata ainda um caso ocorrido no Paraná, em que um cilindro foi cortado ao meio, recheado com drogas e soldado novamente. Ao ser abastecido, explodiu. O episódio evidencia o risco de manipulações ilegais.

A instalação do sistema GNV deve ser realizada exclusivamente em oficinas homologadas pelo Inmetro, utilizando componentes certificados. O processo envolve a instalação de cilindros, tubulações, válvulas, filtros e manômetros, entre outros elementos.

Segundo Rui Barroso, explosões ocorrem geralmente quando as normas técnicas não são seguidas. “Em alguns casos, o cilindro utilizado não possui a espessura adequada nem a certificação do Inmetro para suportar o volume de gás inserido durante o abastecimento”, destaca.

O Inmetro disponibiliza em seu site um sistema de busca para que os motoristas verifiquem se a oficina é autorizada. Basta inserir o nome ou filtrar por estado e cidade para consultar os estabelecimentos cadastrados.

“A adaptação errada e o uso de produto não homologado é que colocam vidas em risco”, reforça Rui.

Mesmo com a instalação correta, a manutenção regular do sistema continua sendo essencial. O desgaste natural do uso e as vibrações do veículo podem comprometer conexões e encanamentos. Por isso, é recomendado checar periodicamente todas as peças.

Além disso, o Inmetro exige que os cilindros passem por requalificação a cada cinco anos — ou antes, caso necessário. O processo inclui testes com aparelhos de ultrassom que avaliam a integridade estrutural do aço. Apenas cilindros aprovados recebem o selo que autoriza sua reutilização.

“Essas inspeções não são burocracia. São medidas essenciais de segurança”, destaca Márcio André Brito, presidente do Inmetro.

Apesar de ter perdido popularidade em relação aos anos 2000, o GNV continua sendo utilizado em diversos estados brasileiros. Em 2025, o país conta com 1.850 postos que oferecem esse tipo de combustível, de acordo com a Abegás. Isso representa cerca de 4% dos 44.678 postos registrados pela ANP.

A frota nacional de veículos adaptados para GNV em 2025 é de 2.607.177 unidades, conforme dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

O estado do Rio de Janeiro lidera com 717.913 veículos adaptados, seguido por São Paulo, com 137.305 automóveis convertidos para o uso de gás natural.