“Dá um certo alívio. É uma longa lista de exceções de mercadorias importantes para a economia americana e também para a economia brasileira. A gente viu que ficaram de fora dos 50% alguns derivados de celulose, que entra em uma pauta importante da Bahia”, explicou Arthur Cruz, coordenador de Conjuntura Econômica da Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI).
A celulose é hoje o principal produto exportado da Bahia para os Estados Unidos. Segundo Vladson Menezes, superintendente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), 12% da celulose baiana exportada tem como destino o mercado norte-americano.
Também foram incluídos na lista de isenções alguns derivados de petróleo, outro setor relevante nas exportações da Bahia, além de minérios, metais preciosos e o sisal produzido no estado.
Por outro lado, nem todos os setores escaparam da taxação. No caso das frutas, apenas a laranja foi poupada. A manga, carro-chefe da fruticultura baiana, será tarifada. De acordo com Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), 60% da produção de manga baiana é destinada aos Estados Unidos.
O setor de cacau também foi afetado. Os derivados, que estão entre os principais produtos baianos exportados para os EUA, agora serão taxados. Conforme Vladson Menezes, só no primeiro semestre o segmento movimentou US$ 47 milhões (R$ 261,8 milhões) em exportações para os norte-americanos.
“Lamentavelmente, só foi poupada a laranja, o suco de laranja. Mas, a manga, que é um produto importante na nossa pauta, o cacau e derivados ficaram de fora”, comentou Arthur Cruz.
Outro item que não entrou na lista de exceções foi o café. Antes mesmo da sanção oficial da tarifa, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) já havia demonstrado preocupação com a medida. “Representa um grave retrocesso nas relações comerciais entre os dois países que pode gerar impactos extremamente negativos e relevantes para toda a cadeia produtiva do café brasileiro, comprometendo a competitividade das exportações e pressionando os custos operacionais em um momento de reorganização do mercado global”, alertou a entidade em comunicado.
Também serão afetados produtos químicos, petroquímicos e pneus produzidos na Bahia. “A gente vai ter uma perda aí de alguns setores”, avaliou Arthur Cruz.
Apesar dos impactos para os exportadores, a expectativa é de que parte desses produtos redirecione sua produção para o mercado interno, o que pode reduzir os preços ao consumidor baiano, ajudando a conter a inflação.
“Porque esses produtos, se não indo para o mercado internacional, vão ter que ser desovados aqui no mercado interno. E isso pode melhorar a inflação, ou seja, é melhor para o consumidor brasileiro. Embora não seja tão favorável para o exportador”, ponderou Arthur Cruz.
A queda no preço da manga já é um exemplo desse efeito. Após o anúncio da nova tarifa, o valor da fruta despencou na Bahia. No Mercado de Juazeiro, o quilo da manga passou de R$ 4,22, em junho, para R$ 1,92, uma redução de 54%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em Salvador, o preço caiu de R$ 7,64 para R$ 3,70 no mesmo período, queda de 51%.
Entretanto, nem todos os setores conseguem realocar sua produção para o mercado local, e alguns sequer têm mercado interno viável. Para esses, ainda há incertezas. Arthur Cruz defende que é preciso articulação com o governo federal. “O governo federal promete, inclusive, mitigar e trazer algumas medidas com financiamentos e isenções por tempo determinado, até que eles se reestruturem e consigam achar mercados alternativos para esses produtos”, afirmou.
Fonte: Alô Alô Bahia
Foto: AFP