Foto: Pedro Ramos
Além de todas as marcas, o ouro chega em 30 de agosto, Dia da Conscientização da Esclerose Múltipla. A atleta era jogadora de vôlei em 1993, quando foi diagnosticada com a doença que causa lesões no cérebro e na medula. Depois disso, integrou a seleção de basquete em cadeira de rodas em Pequim 2008 até descobrir o atletismo. “Eu tenho essa patologia e quero mostrar ao mundo que nada é impossível. A esclerose caminha do meu lado, mas ela nunca vai estar me vencendo”, diz.
Sobre a prova, Beth diz que é preciso ter resiliência e performance. “Pensar que você treinou, que seus adversários também treinaram e que você tem que dar o melhor – o melhor que você treinou. Lógico que a gente fica ansioso, com medo de queimar. Eu acreditei. Eu pensei: ‘vou fazer o meu. Vou lançar e foi de pouquinho. Quando vi no primeiro lançamento que a medalha era minha, pensei: agora posso arriscar”. Diferentemente das provas olímpicas, em que os atletas alternam arremessos, na categoria para atletas que atuam sentados todos fazem todos os arremessos de uma só vez, porque o encaixe de cada atleta na cadeira exige muitos ajustes.
Em 2019, Beth quebrou duas vezes o recorde mundial da categoria no lançamento de disco e foi ouro no Parapan de Lima e no Mundial de Dubai. Além disso, tem no currículo o bronze no arremesso de peso no Mundial de 2015, no Catar, o ouro no lançamento de disco e a prata no arremesso de peso no Parapan de Toronto 2015.
Outro ouro
Mais cedo, o recordista mundial e paralímpico no lançamento de disco na classe F56, o mineiro Claudiney Batista, subiu ao lugar mais alto do pódio e superou a própria marca na capital japonesa. Ouro nos Jogos do Rio, quando lançou o disco a 45,33m, Claudiney quebrou o recorde ao atingir a marca de 45,59m em Tóquio. O pódio na capital japonesa foi completado pelo indiano Yogesh Kathuniya, que ficou com a prata (44,38m), e pelo cubano Leonardo Aldana Diaz, bronze (43,36m).
Potência brasileira
Com 13 pódios alcançados até o momento em Tóquio, o Brasil demonstra força no atletismo, com seis ouros, três pratas e quatro bronzes. O resultado coloca o país no segundo lugar no quadro de medalhas da modalidade, atrás somente da China, que acumula 11 ouros, seis pratas e dois bronzes.
Entre os pódios do Brasil está a prata do velocista Vinicius Rodrigues, que por apenas um centésimo não faturou o ouro nos 100m T63. Na final, velocista percorreu a distância em 12s05, tempo que seria suficiente para fixar um novo recorde paralímpico, mas o russo Anton Prokhonov, atual recordista mundial, cruzou a linha de chegada com 12s04.
“Dá raiva, né? Que miserável de russo”, brincou o atleta da classe para amputados de membros inferiores, com prótese. “Eu fiz uma saída muito boa, mas faltou um pouco mais de agressividade no começo da prova. Treinamos para fechar em 12s, 11s90. Minha profissão é como um trabalho de sniper: você não pode errar”.
Bronze no Mundial de Dubai, em 2019, e agora prata em Tóquio, Rodrigues aposta em resultados ainda mais expressivos nas próximas competições. “Se for uma escala, imagino que no Mundial de 2022 venha ouro. Agora é voltar para a família e recarregar a bateria. Foi uma disputa acirrada, saio meio contente e com gostinho de quero mais”, diz.
Peso de prata
Nervosismo, dor no joelho, desconforto no estômago e muita saudade. Essa mistura de sensações acompanhou Alessandro Rodrigo na final do arremesso de peso F11, em Tóquio. Ainda que tudo isso “pesasse”, nada impediu a conquista da prata na modalidade e a alegria de subir ao pódio mais uma vez numa edição de Jogos Paralímpicos. Mahdi Olad, do Irã, faturou o ouro com 14,43m. Oney Tapia, foi o medalhista de bronze com 13,60m. O lançamento de Alessandro foi de 13,89m.
“Este ano venho treinando bem para o peso. Melhorei em relação ao ranking. Fiquei em terceiro e tinha chance de pegar o ouro, mas de qualquer forma subir ao pódio é muito bom. Meu pai faleceu há três meses, tive Covid-19. Então agradeço a Deus, ao técnico, aos fisioterapeutas que fazem com que a gente esteja ali todo dia. A felicidade é muito grande. É muito gratificante ter esse título”, diz o atleta, que tem um ouro no lançamento de disco nos Jogos Rio 2016..
Alessandro passou pelo Covid-19 sem sintomas, mas perdeu mais de um mês de treino pela necessidade de isolamento. “Eu estava muito bem antes, e esse tempo sem treinar atrapalha, mas acho que quando a gente quer, a gente corre atrás. Então me preparei novamente, foi difícil mudar o cronograma, mas no fim fomos premiados com a prata. Eu sabia que ia brigar com o Irã, e dei o máximo. Senti o joelho, o estômago, mas na hora da prova, a força sempre vem. Agora vou atrás do bicampeonato paralímpico no disco, mais um título para o Brasil”.
Com muita emoção, Alessandro falou da família, da importância da esposa Liene e dos filhos Matias, de 6 anos, e Lucas, de 2. E tentou conter as lágrimas quando lembrou do pai, Carlos, que faleceu em março de 2021.
“É uma pena meu pai não poder estar presente em mais essa conquista, mas espero que ele esteja vendo tudo isso de onde estiver. Ele morreu depois de complicações em uma cirurgia de apendicite. Ele sofreu muito na vida, perdeu uma perna e a cirurgia ocorreu no mesmo momento em que eu estava nascendo, em 28 de agosto de 1984. Ele era mecânico e estava arrumando o carro de meu tio quando uma moto passou na perna dele. Foi muita luta sempre, mas eu tenho feito a minha parte e acredito que tudo tem uma razão de ser”, conta.
Natural de Santo André, o paulista do lançamento de disco e arremesso de peso é campeão do Mundial de Londres, em 2017, bicampeão no disco e no arremesso de peso nos Jogos Parapan Americanos de Toronto 2015 e de Lima 2019, além de ouro no disco e bronze no peso no Mundial de Dubai, em 2019. O atleta se tornou deficiente visual por causa de uma toxoplasmose.
Outros resultados
Fábio Bordignon, que disputou nesta segunda-feira (30) a final dos 100m, classe T35, ficou na quinta posição, com a marca de 12s54. O pódio teve dobradinha do Comitê Paralímpico Russo, com ouro de Dimitri Safronov (11s39) e bronze de David Dzhatiev (11s82) e prata do ucraniano Ihor Tsvietov (11s47).
No lançamento de dardo F64, Francisco de Lima (56m33) e Edenilson Floriani (55m54) ficaram em 5º e 6º, respectivamente, na prova que teve novo recorde mundial estabelecido pelo indiano Sumit Sumit ao lançar a 68m55. O australiano Michal Burian ficou com o segundo lugar no pódio (66m29) e Dulan Kodithuwakku, do Sri Lanka (66m29), conquistou o bronze.
Já no salto em distância T36, Aser Ramos e Rodrigo Parreira ficaram em 4º e 5º, com as marcas de 5m58 e 5m49, respectivamente. Formaram o pódio da prova Evgenii Torsunov, do Comitê Paralímpico Russo (5m76) e William Stedman, da Nova Zelândia, (5m64) e Roman Pavlyk, da Ucrânia (5m63).
Fonte: Cynthia Ribeiro e Cristiane Rosa/Assessoria Rede Esporte