
O Brasil se prepara para sediar um dos eventos mais significativos de 2025: a COP30. Prevista para acontecer em Belém, no Pará, sendo no centro da maior floresta tropical do planeta, a conferência reunirá líderes políticos, cientistas, ativistas e representantes da sociedade civil com o objetivo de orientar as políticas ambientais globais para a próxima década, informa Correio Braziliense.
Mais do que promover discursos, o foco está na implementação de soluções concretas para a proteção ambiental. Uma dessas abordagens que vem ganhando relevância é o conceito de “soluções baseadas na natureza”, que propõe a restauração de ecossistemas e a adaptação às mudanças climáticas aliada à transformação de atividades produtivas potencialmente degradantes em práticas sustentáveis. Neste cenário, o empreendedorismo brasileiro tem se destacado por sua capacidade de inovar e propor transformações.
Grande parte dessa inovação ocorre em micro e pequenos negócios inseridos na chamada economia criativa. Esse setor tem sido palco do desenvolvimento de uma consciência ambiental e social essencial para melhorar a qualidade de vida e garantir um legado sustentável às próximas gerações.
A edição especial Ciclo virtuoso: negócios sustentáveis e transformadores apresenta exemplos de empreendimentos que priorizam o meio ambiente. Dados do Observatório Nacional da Indústria (ONI), divulgados em 2023, apontam que a economia criativa movimenta 3% do PIB e deverá gerar 8,4 milhões de empregos até 2030, um aumento de 13,5% em relação a 2022, quando contava com 7,4 milhões de profissionais.
“A economia criativa é composta por atividades que utilizam o talento, a criatividade e o capital intelectual das pessoas para gerar valor econômico e cultural”, explica Denise Marques, coordenadora nacional de Economia Criativa no Sebrae. Ela destaca que o setor é transversal, englobando áreas como música, audiovisual, moda, design, artes visuais, artesanato, publicidade, arquitetura, games e gastronomia. Denise também observa que novas profissões, como influenciadores digitais, podem ser consideradas parte desse universo.
Além do baixo custo inicial de investimento, um dos atrativos da economia criativa é a valorização de culturas locais e o incentivo a cadeias produtivas colaborativas e sustentáveis. “É um ambiente fértil para os pequenos empreendedores”, complementa Denise.
Empresas criativas têm demonstrado maior consciência sobre inclusão, valorizando o protagonismo de mulheres e jovens, além de adotarem práticas que reduzem o impacto ambiental. Assim, alinham-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e contribuem para uma economia mais diversa e competitiva.
O impacto global do setor também tem crescido. Segundo o relatório Perspectivas da Economia Criativa 2024, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), as exportações de serviços criativos chegaram a US$ 1,4 trilhão em 2022, um aumento de 29% desde 2017. Já os bens criativos atingiram US$ 713 bilhões, crescimento de 19%. Na última década, a participação dos serviços criativos no total das exportações de serviços subiu de 12% para 19%, enquanto a dos bens manteve-se em cerca de 3%. Os países em desenvolvimento também ampliaram sua participação, de 10% em 2010 para 20% em 2022.
“A economia criativa é impulsionada por forças sólidas. Não se trata apenas de arte, é um motor econômico que devemos explorar coletivamente, sem excluir ninguém”, destacou Rebeca Grynspan, secretária-geral da UNCTAD, no lançamento do relatório.
Transformar ideias sustentáveis em negócios rentáveis envolve desafios teóricos e práticos. É necessário conciliar criação artística e sustentabilidade financeira, em um cenário que exige constante atenção às mudanças econômicas e sociais.
Armando Fornazier, doutor em desenvolvimento econômico e professor da Universidade de Brasília (UnB), afirma que é essencial garantir a viabilidade financeira dos empreendimentos e superar obstáculos relacionados à escalabilidade. “A tecnologia tem sido uma grande aliada, reuniões virtuais, trabalho remoto, sistemas digitais, mas é importante lembrar que, ao mesmo tempo que há consumidores ávidos por inovação, também existe demanda por desaceleração”, observa.
Para a professora Daniela Fávaro Garrossini, do Instituto de Artes da UnB e vice-coordenadora do Observatório de Políticas Culturais (OPCULT), as tendências atuais envolvem a convergência entre cultura e tecnologia, o crescimento de projetos com impacto socioambiental e a valorização de experiências culturais com foco no bem-estar. “A criatividade tem sido uma resposta a crises sociais, ambientais e subjetivas, promovendo novos modos de vida mais integrados”, afirma.
Segundo Daniela, a UnB contribui ativamente para essas transformações, integrando diferentes áreas do conhecimento por meio de suas ações de ensino, pesquisa e inovação. “O Decanato de Pesquisa e Inovação da universidade atua como articulador e apoiador de iniciativas que conectam a produção acadêmica às mudanças culturais e sociais em curso.”
Na capital federal, a cultura se destaca como estratégia de desenvolvimento econômico e ambientalmente sustentável. O Panorama da Economia Criativa do Distrito Federal, projeto da Universidade Católica de Brasília (UCB) em parceria com o Instituto Fecomércio DF, FAP-DF e a Câmara Legislativa identificou mais de 130 mil agentes atuando em áreas como música, literatura e artesanato. Essas atividades foram categorizadas em quatro grupos: atividades primárias, indústrias culturais, indústrias criativas complexas e atividades relacionadas.
De acordo com Alexandre Kieling, coordenador do estudo e membro da Câmara de Economia Criativa do Instituto Fecomércio, essas áreas se interligam conforme os projetos se desenvolvem. “É uma cadeia integrada, onde cada função tem um papel que se conecta às demais”, explica.
Kieling, que também integra a Cátedra da Unesco de Economia Criativa e Políticas Públicas, ressalta que essas indústrias não produzem resíduos poluentes e demonstram crescente preocupação ambiental, com medidas como o uso de copos reutilizáveis em eventos e destinação adequada de materiais para reciclagem. “Estamos avançando rapidamente nesse processo de conscientização”, avalia.
Outro destaque está no artesanato, que tem buscado insumos e embalagens mais sustentáveis. Segundo Kieling, o Instituto Fecomércio DF pretende levar exemplos dessas boas práticas para a COP30, em áreas como turismo, hotelaria, games e eventos culturais.