Poderiam ser representantes da memória da cidade, espaços de geração de emprego, de disseminação da cultura ou até vetores de valorização dos bairros. Mas acabaram se tornando elefantes brancos – daqueles grandes e bem alimentados – no meio do caos da cidade.
São prédios históricos, casas de shows ou de convenções que já atraíram ou atenderam centenas e milhares de pessoas. Agora, restam terrenos invadidos, tetos desabados, rotas de fuga ou esconderijo. A conta sobra para a prefeitura, governo do estado e a União, que ou ainda não decidiram o que fazer com os imóveis ou seguem parados na burocracia.
No Engenho Velho de Brotas
Um deles é considerado uma das construções mais antigas da Bahia, o Solar Boa Vista de Brotas, que chegou a abrigar a prefeitura de Salvador e já foi até a casa do poeta Castro Alves. Com um currículo desse, o solar poderia ser o que quisesse, mas segue sendo abandono desde que pegou fogo em 2013. Tomado por vegetação, escombros, lixo, o patrimônio já foi até apelidado de “cracolândia de Salvador.
Não é só abandono, o solar é também conflito – entre a prefeitura e o governo do estado. As gestões disputam de quem é a responsabilidade de recuperação do local. Isso porque, embora a área pertença ao estado, o prédio estava cedido à Secretaria Municipal de Educação quando foi incendiado. Em 2019, a disputa parecia resolvida após a Secretaria de Saúde da Bahia anunciar a instalação de uma central de diagnóstico de imagem no local. Não foi para frente. Agora, outra promessa: em janeiro, a Secretaria de Cultura da Bahia anunciou uma requalificação como parte de um projeto de parque cultural urbano. A previsão é que ainda este ano comece a contenção da ruína do Solar para evitar mais danos à sua estrutura.
No costa Azul
No bairro do Costa Azul, nada novo sob o céu. O antigo Centro de Convenções da Bahia continua largado como uma carcaça velha em uma das principais vias. Fechado há oito anos desde que parte de sua estrutura de metal desabou, o local é um daqueles que servem de fuga e abrigo para usuários de drogas e assaltantes. Moradores atravessam a rua para não passar por ali e reclamam da sensação de insegurança. Mas, ao menos ali, há uma pitada de esperança. O imóvel estava envolvido em ações trabalhistas da antiga Bahiatursa, mas elas já foram resolvidas e o governo do estado aguarda agora apenas a resolução de burocracias em cartórios para abrir a licitação de venda do local.
Na Paralela
Se a disputa for por tempo fechado, o antigo Bahia Café Hall vence, são 10 anos. E o caso é curioso, porque, em 2010, o estado acionou a Justiça para recuperar o imóvel, alegando que o locatário pagava muito abaixo do avaliado. A gestão conseguiu reaver e parou por aí. Ventilou-se a ideia de abrigar a diretoria de vigilância epidemiológica do estado, mas também não foi adiante. Procuradas, as secretarias de Administração e do Meio Ambiente não deram detalhes sobre os planos para o espaço.
Na Pituba
Da Cidade Baixa à Alta, dos bairros mais populares aos mais movimentados, há exemplos de imóveis abandonados em busca de uma finalidade. Na Pituba, o exemplo tem mais de 35 mil m² e um histórico de oito tentativas de leilão, todas sem interessados. É o antigo prédio dos Correios, de portas fechadas desde fevereiro de 2019. Todo fechado com tapumes, o imóvel também é evitado por quem passa pelas calçadas do bairro, como se não valesse no mínimo R$ 141 milhões.
Fonte: Metro1
Foto: Romildo de Jesus